quarta-feira, novembro 12, 2008


Histórico, sim. E para todos!


Minha postagem sobre a vitória de Barack Hussein Obama nas eleições presidenciais estadunidenses foi, reconheço, sem aprofundamento. Fiquei, sim, contente pelo simbolismo que o fato representa. Ciente de que, por outro lado, mudanças drásticas e esperadas na política que a todos afeta podem demorar.

Mas o que tenho eu com o que ocorre nos EUA? Por que não cuido da minha vida, busco e comemoro minhas (do país em que nasci e vivo) vitórias?

Essas indagações foram geradas após ver um comentário recebido para a postagem citada, quando afirmo ser histórico o desfecho eleitoral estadunidense. O leitor diz “Histórico pra eles, vamos deixar de comemorar as vitorias dos outros e buscar as nossas...”. Agradeço, como sempre, os comentários e a oportunidade para expor o que penso, o que sinto, enfim, para trocar uma idéia sobre tudo.

Nascido e criado em Mesquita (Baixada Fluminense, RJ) há alguns anos, trabalhando e vivendo boa parte do dia na cidade do Rio de Janeiro, percebi o quanto ambas as localidades se afetavam. Tão próximas: da Praça Mauá, chega-se em Mesquita, sem trânsito e de van, em trinta minutos. E tão distantes: a realidade estrutural, econômica, cultural, social é absurdamente diferente. E mesmo assim, o que ocorre num local tem reflexo, por vezes imediato, noutro.

Lendo, estudando, abrindo os olhos e quebrando a barreira do pensamento estreito, percebi depois que essa relação de causa e efeito não se restringia apenas aos locais onde vivia minha vida profissional e familiar.

Essa sensibilização, adquirida ao longo de anos, me permitiu sair de um casulo social e, humildemente aprender que não estou só, que meus atos afetam as pessoas, que os atos das pessoas me afetam. Independente de onde eu esteja e independente de onde as pessoas estejam. Pode parecer pieguice… que seja.

Esse “eu” e essas “pessoas” podem ser países, povos, etnias, camadas sociais, vizinhos de um prédio ou de um continente.

Digamos que um cientista de uma tradicional universidade estadunidense anunciasse a descoberta de uma cura para a AIDS, ou para a Malária, ou para o Câncer. Eu, com toda a certeza, celebraria essa vitória que não afeta apenas uma tradicional universidade estadunidense e seus cientistas. Da mesma forma, ficaria triste e indignado ao saber que por ganância um desses cientistas ou laboratórios não democratizasse tal conhecimento, tal descoberta, tal vitória.

A vitória de Obama nas eleições de 4 de novembro, que fui saber e me contentar no dia seguinte (por isso o título da postagem comentada), é um desses eventos que, ocorridos a milhares de quilômetros de meu umbigo, com certeza me afetam em algum grau.

A primeira coisa, talvez óbvia, mesmo que, repito, simbólica: ele é negro. Ele, Barack Hussein Obama, é o primeiro presidente negro da história dos EUA. E esse fato desperta em mim desde um sentimento de “nós podemos”, orgulho, auto-estima fortalecida, até uma perspectiva de mudança numa política externa que nos impacta, queiramos ou não.

O fato é histórico e continuará sendo. Como Monroe Anderson escreveu recentemente na revista EbonyJet: quando Obama for, em 20 de Janeiro, declarado formal e solenemente como POTUS (Presidente Of The United States) ele oficialmente – e para sempre – será o primeiro presidente negro dos EUA.

É isso. As redomas são frágeis, sucumbindo a mais tênue das relações sociais. As verdades vitórias e as verdadeiras derrotas são de todos.

É preciso alimentar o conhecimento com a reflexão;
é preciso alimentar a reflexão com o conhecimento.”
Edgar Morin

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