sábado, novembro 29, 2008

Machado de Assis

Dois excelentes episódios sobre o grande poeta, romancista, dramaturgo, contista, jornalista e teatrólogo, considerado um dos maiores escritores do Brasil, exibidos no programa GNews Documento (da GloboNews) e disponibilizados na internet.

O cronista e seu tempo (14/09/2008)
O início da vida intelectual e literária do Rio de Janeiro do século XIX, por Machado de Assis. Um retrato da época pelo olhar oblíquo das crônicas, romances e contos do autor.

O romancista e sua escrita (21/09/2008)
Sem sair do Rio de Janeiro, era o escritor mais internacional do Brasil no século 19. Vamos percorrer os caminhos literários de Machado de Assis, e saborear o fino estilo do bruxo das palavras.

Biografia de Machado de Assis - Fonte: ABL

quarta-feira, novembro 26, 2008

Doações aos desalojados em Santa Catarina

A Defesa Civil de Santa Catarina abriu as contas abaixo para receber doações.

Banco do Brasil – Agência 3582-3 -Conta Corrente 80.000-7
Besc – Agência 068-0 - Conta Corrente 80.000-0
BRADESCO S/A - 237 Agência 0348-4 - Conta Corrente 160.000-1

Em nome da pessoa jurídica Fundo Estadual da Defesa Civil, CNPJ - 04.426.883/0001-57. O órgão informa que todo dinheiro arrecado será utilizado para compra de mantimentos para os desalojados.

Peço que confirmem as informações no site da instituição:

terça-feira, novembro 25, 2008

Membro da mais alta corte


Eis o retrato de uma triste herança de Fernando Henrique e que está sendo muito bem aproveitada pela corja corrupta que atualmente ocupa os mais altos postos do poder público.

O jurista Dalmo Dallari avisou já em 2002. Previu o que estamos vendo.

"Se essa indicação vier a ser aprovada pelo Senado, não há exagero em afirmar que estarão correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional."

Leiam transcrição de artigo publicado na Folha de São Paulo em 8 de Maio de 2002. Parece que não adiantou muito. Gilmar Mendes conseguiu o posto e hoje preside a mais alta corte.

Recentemente li outro artigo, este de Leando Fortes, originalmente publicado na revista CartaCapital em de 19 de novembro de 2008, e reproduzido no Blog do Mimo, onde temos um histórico mais amplo dessa personalidade. Nos rincões dos Mendes - Em sua terra natal, o presidente do STF e a família agem como coronéis.

domingo, novembro 23, 2008

Consciência nossa de cada dia

Será que a cada semana da consciência negra será a mesma ladainha reducionista? A mesma exteriorização do pensamento estreito? Refletindo sobre tudo isso, escrevo esta postagem.

Dia 20 de novembro não escrevi sobre o tema (mas indiquei um livro do Ipea). Pensei em escrever, mas depois desisti. Era chover no molhado. Li poucas reportagens, algumas não totalmente, pelo mesmo motivo. Resolvi exercer meu direito à não-leitura (leiam post anterior).

Observei, ouvi, assisti, senti, refleti. Chego à conclusão que o dia, para muitas pessoas, vale nada mais que um feriado e que, para a maioria, é algo confuso, constrangedor, estranho. Para alguns é até ridículo.

Vejam a confusão que se cria na sociedade quando alguns deputados se juntam para... criar confusão. Só pode ser essa a intenção dos que aprovaram um projeto, considerado por muitos como mal redigido (e confuso); e às pressas para que ficasse simbólico tê-lo aprovado no Dia da Consciência Negra. O projeto de lei inicial é o nº 73 de 1999 (colo abaixo), de autoria da deputada Nice Lobão (DEM/MA – biografia oficial). O tal projeto foi encaminhado ao Senado na forma de um substitutivo (?) de 2004 do deputado Carlos Abicalil (PT-MS – biografia oficial). Parece que esses deputados fazem isso de propósito!




Reafirmo aqui que sou a favor de políticas sérias de ação afirmativa. Mas o que transpareceu foi a aprovação de algo feito nas coxas e sem discussão séria. O mal está feito. O que era para ser algo benéfico para a sociedade (embora muitos achem que ação afirmativa é um mal a ser evitado) nos chega como um prato cheio para as críticas e dando subsídio para grupos contrários (mesmo que veladamente) ao binômio integração-inclusão.

E, como a discussão é reducionista e o pensamento estreito, cai-se no lugar comum da racialização da sociedade. “Estão tentando (re)criar o racismo”, dizem alguns. Seria cômico se esse tipo de pensamento não fosse externado com sinceridade por muitos. Os que assim pensam ignoram (ou não) que a sociedade já está racializada. A desigualdade racial é um fato e não algo que se deseja construir. Pelo contrário, a desconstrução desse quadro é o que se almeja. Mas, quando o status quo que beneficia um grupo está ameaçado, é normal esse grupo se manifestar.

Existem ainda os que bradam o uníssono “é preciso investir na educação de base”. Ora, isso é óbvio! E, nesse momento, é uma obrigação que não deveria ser posta lado a lado com a ação afirmativa. Como se fossem concorrentes, uma coisa ou outra. É ladainha das piores. Alguns dos que mantém esse discurso provavelmente tiveram uma postura passiva ante a deterioração da educação de base há algumas décadas, quando simplesmente migraram [os seus] para a educação paga.

Mas um dos lados tristes desta história é que acaba fazendo surgir certo constrangimento daqueles que são, em parte, foco das ações afirmativas. Digo “em parte”, pois a ação afirmativa, embora seja explorada pela mídia (e considerada por muitos) como sendo “para os negros” não é exclusivamente voltada para afro-descendentes. Mais uma redução perniciosa de uma discussão que deveria ser séria. Esse é um dos sintomas de que algo está errado. Deveria haver reflexão objetiva, contentamento e/ou esperança de que algo mude para melhor. Mas não, o que tenho notado são cabeças baixas e risos nervosos, e evasivas, e negativas à simples menção do “assunto”. Triste!

Ah, não posso deixar de discorrer sobre a falta de entendimento. O significado do 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra, está sendo deturpado. Já tinha notado isso, mas ficou mais nítida essa deturpação quando recebi uma ligação de minha mãe que, mesmo que num tom brincalhão, me parabenizou pela data (preciso conversar com ela). E essa minha percepção se reafirmou hoje enquanto lia o quadro “Frases da Semana”, do jornal O Globo. Uma das frases é da fundadora do GRES Império Serrano, Tia Maria, de 88 anos: “Esse negócio de dia no negro é besteira. Prova de que o racismo continua. Por acaso, existe dia do branco?”.

Minha demagogia [e hipocrisia] não é tanta para que concorde com todas as opiniões com base na idade ou realização de pessoas. Respeito, sim. Compreendo, até porque a frase vai ao encontro do que exponho. Mas não concordo. Será que a instituição do Dia do Índio também teve a mesma, digamos, resistência?

Com relação à distorção do significado, imaginem (hora de minhas analogias) que um grupo de físicos nucleares se junta e cria algo extremamente benéfico para a população. Concretizada a invenção, eles expõem à sociedade de forma que todos comemoram. Vocês acham que todos os que comemoram têm total entendimento da “criação”? Creio que não. Seriam, então, burros? Não, de maneira alguma. Não entendem porque a linguagem usada para transmitir e explicar a “criação” foi a mesma que os tais físicos nucleares usaram entre si.

É o que me parece ter sido a causa dessa distorção. Algumas pessoas (políticos, acadêmicos, intelectuais, alguns ativistas do movimento negro, etc) se juntaram, conversaram, discutiram, analisaram sob alguns aspectos uma determinada questão e, voilà, temos o 20 de Novembro. No meu entendimento, data de grande importância.

Mas o reflexo de ter sido passado algo sem entendimento, embora, como já disse, de grande importância (não apenas para mim), para uma sociedade já castigada intelectualmente por um projeto de dominação pela ignorância, é justamente esse: começam a considerar o dia 20 de Novembro como “Dia do Negro”.

O 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra, é uma data simbólica, definida em (co)memoração a morte de Zumbi dos Palmares. É “Negra” por ter como foco principal a trajetória histórica do negro (preto e pardo) na sociedade brasileira do passado (escravidão, resistência, libertação – e seus efeitos até os dias de hoje) e atualmente (preconceito, racismo, desigualdade, exclusão – e seus efeitos até sabe-se lá quando), assim como toda a contribuição do negro para a sociedade em diversos aspectos, tais como cultura, religião, culinária, etc. E a “Consciência”, o conhecimento, a noção, a percepção de todos esses aspectos, não é (pelo menos não deveria ser; caso contrário, de pouco ou nada vale) exclusiva dos que têm ascendência ou descendência afro-brasileira, e sim para todos, mulheres e homens, crianças, jovens e velhos, independentemente da cor de sua pela, da cor da pele de seus antepassados ou da de seus descendentes.

Essa “consciência” significa uma relação da alma consigo mesma, uma relação intrínseca ao homem, “interior” ou “espiritual”, pela qual ele pode conhecer-se de modo imediato e privilegiado e por isso julgar-se de forma segura e infalível. Aqui no sentido filosófico (ABBAGNANO, 2000) que, num quadro de interioridade, possibilita indagações a respeito de sua realidade. Ou mesmo no dicionário, que a define como: 1) Atributo pelo qual o homem pode conhecer e julgar sua própria realidade; 2) Faculdade de estabelecer julgamentos morais dos atos realizados.

Esse tipo de consciência deve ser permanente. Não apenas nas considerações raciais (sentido sociológico) ou sociais. Deve estar presente na consideração das relações humanas.

quinta-feira, novembro 20, 2008

A não-leitura

Jose Ribamar Bessa Freire. Este é seu nome. Na universidade era simplemente Bessa. Com certeza foram as melhores aulas durante a graduação. Aulas no sentido amplo da palavra. Tive esse privilégio. Nos links aí ao lado eu indico seu site, o Taqui Pra Ti. Uma de suas mais recentes crônicas versa sobre a leitura, ou a não-leitura. Me identifiquei e indico.

(...) O filósofo alemão Schopenhauer escreveu no século XIX que livro ruim é veneno intelectual, que estraga o espírito. Livros ruins, escritos apenas com o objetivo de gerar dinheiro, além de inúteis, são prejudiciais, porque para ler um livro bom, a condição é não ler o ruim, já que a vida é curta, e o tempo e a energia são escassos. Quem vive para ler, perde a capacidade de pensar por conta própria, como quem sempre anda a cavalo acaba esquecendo como se anda a pé. "Leram até ficar estúpidos" – diz o filósofo, para quem a leitura, sem a não-leitura, paralisa o espírito, da mesma forma que o excesso de alimento ou o alimento inadequado prejudica o corpo. O importante não é comer, mas digerir, não é ler, mas ruminar(...)

Leiam a crônica na íntegra.
As políticas públicas...

... e a desigualdade racial no Brasil 120 anos após a abolição. O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) lançou hoje um livro onde apresenta estudos sobres diversos aspectos da questão racial no Brasil.

Cap 1. Inicia com um enfoque histórico que analisa a formação do mercado de trabalho brasileiro à luz do passado escravista e da transição para o trabalho livre.
Cap 2. Sobre a discriminação racial e a ideologia do branqueamento que ganham força, sobretudo a partir da abolição.
Cap 3. Trata do tema racial tendo em vista as diferentes abordagens do estudo da questão da mobilidade social, proporcionando um rico quadro da trajetória dos estudos sobre o assunto.
Cap 4 e 5. Tratam dos dados mais recentes sobre as desigualdades raciais, extraídos da Pnad: um sobre os aspectos demográficos outro sobre os diferencias de renda.
Cap 6. Analisa as políticas públicas de combate à desigualdade racial no Brasil seus limites e abrangência.
Cap 7. São apresentadas algumas conclusões com base no que foi discutido nos capítulos anteriores.


O livro encontra-se disponível para download. Clique aqui.

quarta-feira, novembro 19, 2008

Qual é a tua obra?

A ética é quase que uma obrigação do ser humano no seu relacionamento com a sociedade. Ouçam essa entrevista de Mário Sérgio Cortella para a CBN. Foi concedida em 26 de abril de 2008 para o Programa Mundo Corporativo e, embora tenha o foco nos negócios, como sempre Cortella dá uma aula sobre muito mais.

Qual É a Tua Obra ? - Inquietações Propositivas Sobre Ética , Liderança e Gestão é o título que o professor e filósofo lançou em 2007 pela Editora Vozes.

Ética, Negócios, Trabalho, Filosofia, Vida. "só é um bom ensinante quem também for um bom aprendente".



domingo, novembro 16, 2008

O Brasil na África e a África no Brasil

A história da escravidão é algo definitivamente complexo. Dentro do fenômeno escravidão que assolou o país durante praticamente três séculos e deixou suas marcas, existem várias histórias. A triste matéria é rica demais e durante décadas teve sua versão minimizada, não por falta de conhecimento dos fatos, estes estavam lá.

Mas a historiografia de hoje não é a mesma de ontem. Novas abordagens, novos olhares sobre velhos documentos, a crítica às fontes, nos permitiram conhecer detalhes de algo antes posto como linear, regular, uniforme.

Autores como Pierre Verger, João José Reis, Alberto da Costa e Silva, Robert Slenes, Keila Grinberg, Manolo Florentino, Flávio dos Santos Gomes e tantos outros, nos dão um panorama do intricado período.

Num ano de tantas efemérides e na semana em que se comemora [trazer à memória, lembrar, recordar] a morte de Zumbi dos Palmares (cuja história sua e do Quilombo que comandou também passa por revisão com base em novos estudos) e dia da Consciência Negra (20 de Novembro), temas como escravidão, racismo, preconceito, desigualdade, ensino da História e Cultura Afro-Brasileira (Lei 10.639), ações afirmativas, religião serão debatidos, criticados, expostos.

Um desses temas, que particularmente me atrai, é a relação atual entre os países do continente africano e o Brasil. Relação essa que tem um capítulo especial que começa com os anos finais da escravidão, com as trocas intensificadas (de escravos, inclusive) e o retorno de africanos e/ou descendentes (que aqui nasceram) para a África. A GloboNews apresentou em março e abril deste ano um especial – Os Retornados – que aborda essa temática.

Mas uma vez a Internet se apresenta como veículo de democratização da informação, tendo em vista que, assim como eu, muitos não possuem televisão por assinatura e/ou tempo para assistir certos programas. Com isso, sempre conto/contamos que disponibilizem os vídeos na rede. Assistam abaixo. Dois programas de pouco mais de 20 minutos cada.

Nos 120 anos do fim da escravidão, a Globo News apresenta uma série exclusiva sobre os retornados brasileiros. São milhares de ex-escravos que voltaram para a África ocidental em busca de oportunidades e lá, em países como o Benim, tiveram um papel fundamental no desenvolvimento da região… É o Brasil na África.

Grande família brasileira na África


Marca brasileira

sábado, novembro 15, 2008


A crise mundial
World crisis


Neste sábado, líderes das nações economicamente mais poderosas do mundo, além daquelas ditas economias emergentes, participam de uma reunião para discutir a crise econômica que atinge vários países.

This saturday, leaders of world most economically powerful nations, and these emerging economies, participate in a meeting to discuss the economic crisis afflicting many countries.

Crise que começa no setor financeiro, diminuindo o lucro dos ricos e preocupando governos. Os EUA já engedraram um pacotão para ajudar os coitados. Aqui no Brasil, o Luiz da Silva faz o mesmo. Fico pensando: será que ele se imaginava fazendo o jogo que tanto criticou?

Crisis that began in the financial market, reducing the profits of the rich and while governments. The U.S. has launched an economic package to help the "Poor". Here in Brazil, Luiz da Silva did the same. I wonder if he imagined doing something he always criticized.

O fato é que parece ter havido uma união mundial em prol de uma causa humanitária. Humanitária porque, quer queiramos, quer não, da maneira como as coisas estão estruturadas, se o rico deixa de obter muito lucro, o pobre deixa de ganhar o básico para sua subsistência. Se a bolsa "cai" um ponto percentual, alguém deixa de ganhar um milhão, e muitos deixam ganhar o pão. A lógica é absurda, desumana, cruel.

The fact is that there seemed to be a global union for a humanitarian cause. Humanitarian because, like it or not, the way things are structured, if the rich no longer get much profit, the poor cease to win the basic for living. If the stock market goes one point down, someone stops earning a million, and many people starve. The logic is absurd, inhuman, cruel.

Esse é o preço de se pautar desenvolvimento basicamente em fatores econômicos. A verdadeira crise mundial não começa nos índices da bolsas de valores. Ela começa justamente quando os valores se perdem, ou são deturpados.

This is the price of understanding development just as an economic goal. The real world crisis does not begin in the stock exchanges indexes. It begins precisely where the values are lost, or are misrepresented.

Esse tipo de união, esse clamor da elite, não vemos em questões que envolvem os mais pobres. A bolsa de valores humanos parece ter quebrado e poucos se importam. Os grandes conglomerados de miseráveis e famintos ficam ser socorro. Os executivos-executores de nações mais pobres não sofreram sanções de fato, continuam executando seus povos. Não houve pacotes de ajuda para os seres humanos que tiveram suas vidas falidas.

This sort of union, this demand of the elite, we don't see on issues involving the real poor. The human stock market seems to have broken and few seems to be concerned. Large conglomerates of miserable and hungry had no help. The executive-killers of some poorest nations did not suffer real sanctions, still running their peoples. There was no package of help for humans beings who have had their lives failed.

Nesse ponto a fraternidade não tem vez, ou é relativizada uma vez que se aplica ou entende-se num pequeno grupo: aqueles que deixaram de ganhar seus milhões, seus bilhões. Um exemplo contundente da desigualdade.

At this point the fraternity have no place or is only applied to a small group: those who failed to keep earning millions, their billions. That is called inequality.

Artigo 1°
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.
Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em
espírito de fraternidade.

Article 1
All human beings are born free and equal in dignity and rights.
They are endowed with reason and conscience and should act
towards one another in a spirit of brotherhood.

quarta-feira, novembro 12, 2008


Histórico, sim. E para todos!


Minha postagem sobre a vitória de Barack Hussein Obama nas eleições presidenciais estadunidenses foi, reconheço, sem aprofundamento. Fiquei, sim, contente pelo simbolismo que o fato representa. Ciente de que, por outro lado, mudanças drásticas e esperadas na política que a todos afeta podem demorar.

Mas o que tenho eu com o que ocorre nos EUA? Por que não cuido da minha vida, busco e comemoro minhas (do país em que nasci e vivo) vitórias?

Essas indagações foram geradas após ver um comentário recebido para a postagem citada, quando afirmo ser histórico o desfecho eleitoral estadunidense. O leitor diz “Histórico pra eles, vamos deixar de comemorar as vitorias dos outros e buscar as nossas...”. Agradeço, como sempre, os comentários e a oportunidade para expor o que penso, o que sinto, enfim, para trocar uma idéia sobre tudo.

Nascido e criado em Mesquita (Baixada Fluminense, RJ) há alguns anos, trabalhando e vivendo boa parte do dia na cidade do Rio de Janeiro, percebi o quanto ambas as localidades se afetavam. Tão próximas: da Praça Mauá, chega-se em Mesquita, sem trânsito e de van, em trinta minutos. E tão distantes: a realidade estrutural, econômica, cultural, social é absurdamente diferente. E mesmo assim, o que ocorre num local tem reflexo, por vezes imediato, noutro.

Lendo, estudando, abrindo os olhos e quebrando a barreira do pensamento estreito, percebi depois que essa relação de causa e efeito não se restringia apenas aos locais onde vivia minha vida profissional e familiar.

Essa sensibilização, adquirida ao longo de anos, me permitiu sair de um casulo social e, humildemente aprender que não estou só, que meus atos afetam as pessoas, que os atos das pessoas me afetam. Independente de onde eu esteja e independente de onde as pessoas estejam. Pode parecer pieguice… que seja.

Esse “eu” e essas “pessoas” podem ser países, povos, etnias, camadas sociais, vizinhos de um prédio ou de um continente.

Digamos que um cientista de uma tradicional universidade estadunidense anunciasse a descoberta de uma cura para a AIDS, ou para a Malária, ou para o Câncer. Eu, com toda a certeza, celebraria essa vitória que não afeta apenas uma tradicional universidade estadunidense e seus cientistas. Da mesma forma, ficaria triste e indignado ao saber que por ganância um desses cientistas ou laboratórios não democratizasse tal conhecimento, tal descoberta, tal vitória.

A vitória de Obama nas eleições de 4 de novembro, que fui saber e me contentar no dia seguinte (por isso o título da postagem comentada), é um desses eventos que, ocorridos a milhares de quilômetros de meu umbigo, com certeza me afetam em algum grau.

A primeira coisa, talvez óbvia, mesmo que, repito, simbólica: ele é negro. Ele, Barack Hussein Obama, é o primeiro presidente negro da história dos EUA. E esse fato desperta em mim desde um sentimento de “nós podemos”, orgulho, auto-estima fortalecida, até uma perspectiva de mudança numa política externa que nos impacta, queiramos ou não.

O fato é histórico e continuará sendo. Como Monroe Anderson escreveu recentemente na revista EbonyJet: quando Obama for, em 20 de Janeiro, declarado formal e solenemente como POTUS (Presidente Of The United States) ele oficialmente – e para sempre – será o primeiro presidente negro dos EUA.

É isso. As redomas são frágeis, sucumbindo a mais tênue das relações sociais. As verdades vitórias e as verdadeiras derrotas são de todos.

É preciso alimentar o conhecimento com a reflexão;
é preciso alimentar a reflexão com o conhecimento.”
Edgar Morin

sábado, novembro 01, 2008

A postagem a seguir começou a surgir após a leitura do artigo How we fuel Africa's bloodiest war (Como abastecemos - ou alimentamos, ou estimulamos, ou financiamos - a mais sangrenta guerra da África) de Johann Hari no The Independent. Li ontem o artigo publicado um dia antes e uma coisa me intrigou, além do título, é claro: o coltan. Uma das conclusões a que cheguei foi que minha ligação com o continente africano não se dá simplesmente na origem, na história, no sangue. Meu modo de vida, os recursos de que disponho e que acabam se tornando banais, também me ligam àqueles do outro lado do Atlântico e de uma maneira que não imaginava. A propósito, você também está ligado a tudo isso.

Vamos conversar

- Alô! É "do Congo"?
- Sim. Quem fala?
- Aqui é o Alex, do Brasil. Tudo bem por aí?
- Oi Alex. Sinceramente não está nada bem, e há muito tempo.
- Ainda em guerra?
- Sim. Parece interminável. Somos milhões, e todos sofremos muito.
- Por aqui não se fala muito. Parece que se trata de mais um filme hollywoodiano. Parece surreal, ficcão.
- Mas é tudo verdade. Está acontecendo agora, enquanto conversamos.
- Como posso ajudar você, "do Congo"?
- O que vou dizer pode soar contraditório, mas uma das coisas seria parar de conversar.
- Não entendo.
- Alex, parece mesmo difícil fazer a "conexão". Mas, como eu disse, o "parar de conversar" poderia soar contraditório. As pessoas estão conversando muito, e ao mesmo tempo dialogam pouco, refletem menos ainda, se entendem em quase nada, ignoram e não se importam. Essa conversa (e outras modernidades) tem um efeito colateral que poucos sabem: a guerra.
- Poxa! Agora mesmo que não entendi nada "do Congo". Pode explicar melhor.
- Façamos uma coisa Alex, pesquise, analíse, pense, reflita e começará a entender um pouco. A palavra mágica: COLTAN. Até mais!





Fontes:
© JONATHAN SHAPIRO. 23-5-2008

Zapiro (sempre uma grande charge). Clique
aqui para ver outras.

SEPPIR, aí complica!

Hoje li uma “matéria” (entre aspas, em protesto pelo tom usado no referido texto de O Globo) sobre a proposta de criação de uma delegacia especial de crimes étnico-raciais pela SEPPIR. Assim como o autor do texto no jornal, eu não concordo com esse projeto da secretaria. Aliás, uma secretaria assim como outras desse governo (e herdadas de governo anterior), que tem se mostrado inútil.

Polêmica já se esperava de um órgão público criado para lidar com uma questão que a maioria finge que não existe. Mas tais polêmicas poderiam ser minimizadas com foco em ações que realmente impactassem a sociedade, de forma positiva, não resolvendo o “problema” (também entre aspas, pois, para uma parcela da população, não configura problema), mas contribuindo para diminuir seus sintomas.

Pelo que li no site da instituição, uma das justificativas para a criação da tal delegacia seria a falta de preparo das atuais delegacias em lidar com queixas por racismo. É óbvio que o atual modelo de delegacia (e atual modelo de policiais) teriam “dificuldades” nesses casos. Ora, como lidar com algo que não se entende, não se reconhece, não se aceita, não quer ver nem ouvir? É difícil mesmo. Mas esse atual modelo que falo não está despreparado somente para questões raciais. A polícia está despreparada para questões humanas.

Como o próprio site e a “matéria” fazem, é inevitável a comparação com a delegacia das mulheres. Uma comparação que torna a proposta ainda mais, digamos, complicada. E reducionista, como a maioria das políticas. Ainda mais em se tratando da instituição Polícia, cuja história de formação (e atuação) está diretamente ligada ao binômio preto-pobre.

A polícia continuará desacreditada. Ações violentas continuarão acontecendo. Sou a favor de uma mudança institucional. Formação continuada dos policiais. Uma formação humanística de fato, de forma que se conscientizem que seu dever maior é respeitar o ser humano, promovendo a segurança. É aí que o SEPPIR deveria atuar.

Infelizmente, mais uma vez a politicagem toma conta de instituição pública. A cegueira e a falta de bom senso inundam instituições de suma importância para o país. Quem está lá quer aparecer. Afinal, o que chama mais atenção, um trabalho inteligente dentro das instituições ou uma bela construção (em algum ponto de destaque, podem ter certeza) com a inscrição na faixada “Delegacia contra Crimes Étnico-Raciais”?

Estão jogando anos de luta na lata do lixo.

A menina no mercado

Havia uma menina no mercado. Devia ter uns 12 anos. Talvez menos. Estava atrás de mim no caixa. Tinha dois pacotes de macarrão instantâneo n...