terça-feira, agosto 12, 2008

Anistia, Tortura, Hipocrisia e outras verdades

Embora não esteja tão antenado no assunto, sempre fiquei incomodado com esse acordão histórico feito entre os que um dia estiveram no poder e os que lutaram por uma mudança à época. Não posso dizer que de um lado estavam os militares, pois estaria generalizando, reduzindo a uma categoria os componentes de tal lado. Isso porque civis também estavam lá, participando, ativamente, na construção de algo hoje tão criticado (mas também defendido, por alguns). Também não poderia aqui dizer que os do outro lado eram de esquerda (expressão tão ambígua hoje e, talvez, sempre). Lá estavam estudantes, artistas, intelectuais, jornalistas, e outras tantas pessoas que, unidas ou em ações isoladas, tentaram combater o regime, lutando por direito quando só o dever interessava aos que no poder estavam. Crimes foram cometidos, de ambos os lados. Isso é fato.

Pensei, por que, quando se tem consciência dos fatos e a possibilidade de julgar os atos, faz-se silêncio. Por que, quando após o pesadelo a sociedade parece despertar, o que se acorda é a leniência com ambos os lados, indenizações e pensões vultosas, silêncio, silêncio, silêncio.

Mas se para uns é cômodo, para outros não ou nem tanto. A linha que separa a comodidade e a lembrança indignada é tão tênue e instável com não deveria deixar de ser, pois está presente nas relações humanas. As mesmas relações que nos permitem hoje observar representantes de ambos os lados, lado a lado, decidindo o rumo deste país que não seria o mesmo sem as mazelas de um passado não muito distante.

Lá estão pessoas que atuaram de forma direta e ativa, na linha de frente mesmo, quando se escreveu um dos mais marcantes capítulos da história do Brasil. Perdão, resignação, esquecimento? Que tal interesse? Sei lá!

Um grita "pela vida e pela paz, tortura nunca mais!", o outro “... terrorista nunca mais!". Há um pouco de verdade e mentira em ambos os protestos. Mas são as verdades de cada um. Quem matou o jovem de 15 anos? Quem o outro jovem de 17? Questões, perguntas, como tantas outras feitas ou por fazer. "Eles são comunistas!", "E o senhor é fascista!". Nada mais que palavras. E no fim, quem sabe, as verdades mais verdadeiras apareçam, com as máscaras sendo desfeitas, o coração falando, mesmo que em sua dureza, mas de forma espontânea, natural, cruel. No fim, quem sabe se inicia algo.

O vídeo a seguir é um reflexo da revisão da Lei de Anistia. Vejam lá milicos no conforto de suas aposentadorias e no desconforto de sua história; pessoas que viveram direta ou indiretamente os males de algo passado, mas que ficou, marcou; pessoas que leram, ouviram, perceberam algo e, com isso, assumiram suas posições num dos lados; gargantas, braços, olhares, palavras e silêncios. Vejam lá, pelo fim do vídeo, certo deputado federal, "militante" ativo num dos lados, faz uma declaração nada adequada, mas que serve para que saibamos com quem se lida. Neste caso, repito, num dos lados. Do outro, se fez, e muito, mas pouco se fala. Ouçamos, sempre que possível, a ambos.



Que sirva pelos menos para reflexão.

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