sábado, janeiro 31, 2015

Os anciões e a preservação da essência de nossa cultura

O que um episódio de Jornada nas Estrelas pode nos fazer refletir sobre preservação no contexto informacional? Muita coisa!

Não posso me considerar um aficionado pela séria, embora goste muito da temática. Ficção, tecnologia, espaço... a fronteira final.

Tantos séculos à frente e a referência ao passado é sempre constante. Fatos, relatos, imagens... Até representações holográficas desse passado remoto. Informação, preservada e acessível.

Há algum tempo fiz a seguinte pergunta a uma amiga: qual a data do e-mail mais antigo que você ainda guarda? Sinceramente não me recordo da resposta. No meu caso, o mais antigo datava de 4 de Abril de 2004. Quase dez anos na ocasião da pergunta. Reparei que isso era e ainda é raridade. Hoje já não tenho esse e-mail. Graças ao IG que parece ter deletado todo conteúdo de minha conta, sem avisar. Hoje, o mais antigo que tenho data de 2006. Claro, quando se tem um e-mail corporativo, numa empresa que se preocupa minimamente com a preservação (mesmo que indiscriminada) por questões de negócio, é fácil encontrar e-mail mais antigos. É a política do "arquiva tudo".

No caso de fotos é indiscutível que as mais antigas e ainda acessíveis não estão em mídias digitais, mas em papel. Algumas pessoas até mesmo preservam aqueles velhos filmes, bastando uma boa vista e uma fonte de luz para “acessar” a informação ali registrada. Claro, aqui não considero os processo de digitalização para a acesso.

Mas será que em algumas décadas ainda teremos acesso a tais informações? Ainda poderemos abrir um e-mail antigo, ler seu conteúdo, recordar?

O fato é que as mídias mais seguras para preservação de longo prazo não são os discos ópticos, não são os muitos pen-drives acumulados em nossas gavetas, não são os cartões de “memória” de nossos celulares, câmeras fotográficas, ou quaisquer outros dispositivos móveis.

O microfilme se destaca nesse quesito. Para muitos ultrapassados, mas atualmente muito utilizado.

Não esqueçamos o retorno do disco de vinil. Para muitos, simples saudosismo, onda retrô. Mas em termos de preservação é bem mais seguro que um CD ou outra mídia usada popularmente para armazenamento de arquivo MP3, por exemplo.

Voltando ao filme…

Num dos episódios, Vulcano, o planeta natal do incrível personagem Spock, é destruído. No filme, ele comenta algo, num tom de lamento. É mais ou menos assim: “…mesmo que a essência de nossa cultura tenha sido preservada pelos anciões…”.

O fato é que fica claro, naquela declaração, que não é a tecnologia, não são as mídias, as responsáveis pela preservação do conhecimento daquele povo. São os anciões.

Tal como os griôs nas sociedades africanas (pelo menos as mais tradicionais) os anciões vulcanos têm esse importante papel: a preservação da memória, principalmente por meio da disseminação.

Dito isso, vamos a análise crítica e as comparações para tentar emendar essas duas linhas de raciocínio.

Já não temos mais disquetes. Os CD-ROMs são praticamente inexistentes. Temos um ou mais pen-drives. Temos nossos cartões de memória em nossos smartphones e/ou em quaisquer outros dispositivos móveis. São nossos espaços locais. Temos também nossos espaços na nuvem, na clould. Este último, claro, estamos terceirizando (Google, Amazon, Apple…) e raramente refletimos sobre como nosso espaço está sendo cuidado. Ou, se deixarmos de “frequentar” esses espaços virtuais durante algum tempo, quando retornarmos, será que “nossas coisas” acessíveis? Normalmente só nos preocupamos quando, por algum problema técnico, nosso espaço na nuvem fica inacessível.

E como estamos cuidados de nossos espaços locais? Os guardamos em local seguro? Fazemos migrações periódicas de maneira a mantermos os arquivos acessíveis por programas atualizados? Eliminamos o desnecessário, as duplicações? Fazemos verificações sobre a segurança dos arquivos, sua integridade, etc.?

E nossas mídias humanas? Como as tratamos? Nossos anciões, nossos velhos, nossos “mais antigos”. Eles estão acessíveis? Ainda conseguimos “lê-los”? Estamos cuidados deles de modo a preservar o que nos têm a oferecer? Estamos, de alguma forma, registrando o que os guardiões da essência de nossa cultura nos transmitem? 

E, por fim, temos consciência de que nós, os “não tão antigos”, os Spocks desse espaço, também somos responsáveis pela preservação de nossa memória?


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