quarta-feira, fevereiro 13, 2013

Revirando as Cinzas


Algumas observações, lembranças e percepções. O que vi neste Carnaval?

Pra começar ficou claro que meu tempo de folião inveterado é passado. Ou talvez esteja apenas hibernando. Nunca se sabe. Boas lembranças de outros carnavais que iniciavam na quinta-feira e seguiam ininterruptamente até bem depois das Cinzas.

O fato é que este ano saí pouco, por opção mesmo. Menos até que no ano anterior. Mas algumas coisas eu não deixei de observar e aqui registro.

Primeiramente algo que penso que todos perceberam foi o aumento de turistas no Rio de Janeiro. A folia de rua está cada vez mais forte na cidade. O número de blocos parece não comportar tanta gente. Avenida Rio Branco, Lapa, Aterro, Orla da Zona Sul, Ruas e Praças e Esquinas… A qualquer hora, em qualquer local. 

Mas ainda acho que poderia haver uma descentralização maior, até por conta da quantidade de pessoas. Zona Norte, Zona Oeste, Baixada… Estive em Mesquita ontem, e em Nilópolis também. Nem sinal da animação que se viu na Zona Sul e Centro do Rio de Janeiro nesses últimos dias. Uma pena.

Ah, o número de turistas, brasileiros e estrangeiros, também parece ter aumentado. Um teste para os grandes eventos que estão por vir.

Bem, vamos aos detalhes, aquelas observações que aparentemente não tem importância, mas que, analisando bem, dizem muita coisa.

Foi inevitável uma comparação, pelo menos em alguns momentos, com o carnaval passado, no que diz respeito à quantidade de catadores de latinhas. Teve um momento que eu estranhei mesmo. Ninguém aparecia e as latinhas se acumulavam. Pensei “isso mostra que a condição de vida daquelas pessoas melhorou e não existe mais a necessidade…”. Mas, claro, pode ser que a relação oferta-procura esteja desequilibrada. Não me entendam mal, não fico feliz ao ver tanta gente trabalhando como catadores de latinha para sobreviver. E não me venham dizer que é um trabalho como outro qualquer, digno, gera renda, sustentável, blábláblá. O ideal seria que as latinhas fossem depositadas em lugares adequados e recolhidas diretamente para reciclagem. Não faço parte da turminha que se regozija e se promove com a miséria dos outros. Mas o fato é que não vi tantos catadores como nos anos anteriores.

Ainda com relação aos catadores eu presenciei uma cena, no mínimo, curiosa. E que mostra tanto a força da propaganda como também o condicionamento das pessoas. Todos sabem que a cerveja Antarctica, como patrocinadora do Carnaval de Rua no Rio, praticamente domina o comércio nessa época. Latinha azul. Pois bem, estávamos numa praça, próximos a um amontoado de latinhas azuis. Mas uma delas era vermelha (Coca-cola). Um senhor chega e começa a recolher as latinhas e simplesmente ignora a vermelha. Foi algo inusitado. Ele estava tão condicionado a pegar latinhas azuis que não se apercebeu da latinha vermelha (mesmo material e valor).

A cada ano as fantasias me surpreendem mais. A criatividade das pessoas parece não ter fim. E, a maioria dessas, feitas em casa com o material que tinham a mão. Ou mesmo compradas nas farmácias (fraldas geriátricas, por exemplo). Carnaval barato e cheio de animação, descontração e com muito humor.

Álcool! Aí vai um recado para os reguladores de plantão. Vendedores ambulantes devidamente registrados e autorizados a comercializar bebidas - principalmente a cerveja de latinha azul que compram com vantagens em mercados e depósitos - estão vendendo a bebida para menores. Como fica claro que não há controle, pergunto se houve pelo menos uma conscientização (ou um simples aviso) no ato do registro. 

Carnaval parece época de esquecer. Esquecer o trabalho, os problemas pessoais, as dívidas… Esquecer e relaxar, aproveitar, foliar. Mas basta uma olhadinha para o lado que vemos algo simplesmente inesquecível. Inesquecível de tão triste e preocupante. Falo do crack. A chamada epidemia que assusta a sociedade (assusta mesmo?) e destrói a vida de tantos. Ontem, voltando de Nilópolis de ônibus, passando pela Avenida Brasil, altura de Bonsucesso, acesso à Ilha do Governador. Ali mesmo. No mesmo local. Nada muda. A não ser o número de seres que engrossam aquela massa de humanos totalmente à margem da sociedade – neste caso, à margem da Brasil… do Brasil – que tiveram suas vidas literalmente interrompidas pelo consumo dessa porcaria chamada crack. Posso viver o melhor Carnaval de minha vida, mas aquela cena é deprimente. E lamentável, posto que evitável, uma vez que basta que aqueles que podem e devem fazer alguma coisa, façam tal coisa.

Sobre essa questão das drogas, acabei de ler que um ator, conhecido por atuações em telenovelas, está se juntando a certo grupo (não vou complementar com “político”, pois não é bem isso que tal grupo tem feito nos últimos anos) e dá entrevista lamentando que “tantos presos lotando os presídios só porque fumou ou vendeu um baseado” que diz que uma de suas bandeiras será a liberação da maconha. Gostaria que ele hasteasse essa bandeira em frente às casas de mães e pais e irmãos e amigos que perderam os seus pelo que ele quer liberar. Mais um medíocre a querer “salvar” o país de terno, com fórum privilegiado, salários e tantos outros benefícios garantidos sem exigência de ibope. Essa é uma folia que parece não ter fim.

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