terça-feira, fevereiro 12, 2013

Nossos velhos


Ao longo dessas mais de três décadas convivi com várias pessoas idosas de minha família. Quando se vive, o “fenômeno” do envelhecimento é inexorável. Assim como a morte…

O fato é que nessa convivência existe uma peculiaridade que se inverte com o tempo. Falo da responsabilidade (e responsabilização) de um para com outro.

Bem, essa questão que a primeira vista parece simples pode suscitar discussões das mais diversas e profundas, seja sobre a efemeridade da vida, sobre a perenidade da família enquanto instituição, ou até mesmo sobre o aparato jurídico criado na esteira da problemática “mais velho” x “mais novo” x “responsabilidade”.

Não é minha intenção aprofundar o debate. Esse desabafo, que poderia (ou deveria) ter escrito antes tornou-se necessário, assim posso dizer, após uma visita aos meus velhos. Mais que um desabafo, talvez possam considerar o que escrevo abaixo como um toque.

Vamos lá… A metodologia de qualidade total conhecida como 5S não é algo estranho, creio eu, para a maioria das pessoas. Só o nome que ganha ares academicistas. Eu, muitas vezes faço o tal 5S nas minhas “bagunças”, na geladeira, nos armários, etc. Há algum tempo comecei a ficar mais atento ao que se passava nas casas de minha avó paterna e minha tia-avó materna, ambas com mais de 80 anos. Antes, já conversava e dava conselhos para minha mãe e até para minha irmã.

Bem, o fato é que comecei a ficar um pouco assustado com certas coisas que encontrava. Consequentemente, passei a ficar mais atento. Iniciei fuçando os remédios. Sim, infelizmente meus velhos tomam muito remédio. Acho até que tomam remédios demais. Mas não sou médico, apenas um intrometido metido a besta.

Me deparei com muitos remédios fora da validade. Outros, em ambiente impróprio para uma efetiva conservação ou preservação de suas propriedades alopáticas. Outros ainda, lendo a bula (sim, eu leio a bula), indicavam reações adversas se ingeridos com medicamentos que estavam sendo usados (logo, não houve uma boa comunicação médico-paciente). Tudo para o lixo!

Resolvi explorar outros ambientes. Foi natural olhar para a parte alimentar. Geladeira e despensa. Mais uma vez o susto. Alimentos vencidos. Alguns acondicionados de forma que, mesmo dentro do prazo de validade, apresentavam características que indicavam, visivelmente, que não deveriam mais ser consumidos. Lixo!

Recentemente explorei, também, os cosméticos. Não considero a vaidade um pecado mortal. A exceção dos exageros, hábitos e recursos de embelezamentos são muito importantes para manter a vitalidade, a autoestima. Mas tais produtos (perfumes, cremes, esmaltes, batons, etc.) são igualmente nocivos quando fora da validade. Encontrei muitos. Mais lixo!

Lembremos aqui que a validade dos produtos é estimada e considera que tais produtos estarão acondicionados de forma e em ambiente adequados.

É importante também considerar que qualquer mudança gera um estresse, que pode ter consequência negativa. Logo, é preciso tato. Conversas, explicações, exemplos… e humor. E, claro, tudo com calma, nada de posturas grosseiras ou ações abruptas, agressivas. Tudo isso e o mais importante: respeito.

A inexorabilidade a ação do tempo em nosso corpo (velhice) é um fato, assim como o é a ação do corpo em nossa vida (morte). São as verdades da existência.

Se podemos fazer algo importante, então devemos fazer tal coisa, já dizia alguém que não me recordo no momento. Em se tratando de questões de saúde temos uma obrigação (moral, humana). A inércia, nesse caso, trás consequências graves, senão derradeiras.

A balança da responsabilidade (e da responsabilização) agora pende para o lado dos “mais novos”. Sabemos o que podemos fazer. Sabemos o que devemos fazer. E nossos velhos agradecem.

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