Livros abertos, livros ligados
Dia desses estava eu no ônibus da empresa e abri um livro. Ao me lado sentou um senhor e ligou o seu. Dispensável dizer que o objetivo de ambos era o mesmo: aproveitar o tempo de deslocamento para a leitura. Mas não deixa de ser visualmente impactante a maneira como o objetivo de ambos era atingido.
Meu livro, o de abrir, não era velho. Comprei há uns 15 anos talvez, quando assinava a Reader’s Digest e sempre adquiria as coletâneas de quatro livros em um. A baixa qualidade do papel, somada a falta de cuidado técnico para sua conservação, deu ao livro um aspecto muito antigo.
Já o do colega ao lado, o livro de ligar, emanava novidade, modernidade. O brilho da tela, as letras bem definidas, o design futurístico. Detalhes notados num olhar indireto; tão visível e destacado era aquele aparelho que parecia ter sido tirado de um filme de ficção.
A cena ficava ainda mais interessante ao ser analisada em seu conjunto, pois a idade dos leitores era inversamente proporcional à idade da mídia que cada um lia.
Os livros em formato digital já existem há algum tempo. Muito antes dos chamados e-Readers, ou dos computadores em formato de prancheta, os Tablets, os livros já podiam ser lidos na tela dos computadores pessoais. Sejam as páginas digitalizadas, sejam livros digitais com programas para “simular” algumas características do livro em papel, tanto para exibição, como para o ato de ler.
Tenho certa resistência a essas novidades. Lembro que o primeiro livro que “baixei” foi Drácula, de Bram Stoker. Cheguei a iniciar uma leitura, mas ficou por aí. Talvez pelo fascínio que a Biblioteca tradicional (será que de agora em diante teremos de classificar a biblioteca?) me desperta, talvez por ser antiquado, continuo sendo amante e usuário de livros à maneira antiga.
Como ser humano, sou caracterizado, dentre outras coisas, pela inconstância. Característica essa (cultural, social, biológica, psicológica, antropológica, etc.) que pode transparecer ao longo dos dias, meses, anos, décadas… séculos, milênios. Logo, talvez daqui a algum tempo eu adira aos livros de ligar.
Da mesma forma existe certa inconstância na “vida” dos materiais. Logo, não podemos precisar quando os livros de abrir não mais poderão ser abertos. E quando os livros de ligar não mais poderão ser ligados.
Até lá, haverá pessoas que se abrirão aos livros de ligar, e pessoas que continuarão ligadas nos livros de abrir. E a leitura continuará ligando as pessoas e abrindo as mentes.
Um comentário:
Acho tão interessante quanto charmoso o livro de abrir,e gostaria de utilizar o livro de ligar pela sua praticidade. Mas penso, será que eu poderia sublinhar, rabiscar e fazer florzinha no livro de ligar?
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