domingo, dezembro 05, 2010

Lembranças permanente
Poemas perdidos e Memórias apagadas

Bem antes de me aventurar nesse incrível mundo que é a blogosfera, eu já experimentava a enriquecedora forma de expressão que é a escrita.

Um pequeno histórico... A primeira lembrança que tenho de um contato - e vislumbramento - com um texto, e sua estrutura, e seu ritmo, e sua rima e seu significado é de um poema. Aula de português, Escola Municipal Rotary (em Mesquita), Professora Denise (que também ministrou inglês)... lá nos idos de 1989 ou 90, talvez antes. Era o Soneto da Fidelidade, de Vinícius de Moraes. Esse texto foi uma, digamos, exceção que minha lamentável memória e minha quase incapacidade de concentração me concederam, pois não o esqueci desde então.

Talvez o que tenha facilitado este registro em meus parcos neurônios, além da beleza do poema, tenha sido exatamente sua estrutura, sua forma, isto é, a disposição dos 14 versos de um soneto. Achei algo simples, acessível. E, por isso, mais tarde pude aplicar aquela lógica estrutural (dos versos) em meus próprios poemas. Abaixo eu transcrevo um deles, graças a uma cópia impressa de uma página web onde foi publicado.


nesses dias em que a realidade parece um sonho
... mas não há sonho

nesses dias em que a relidade
parece um sonho que sempre sonhamos em sonhar
esse sonho se mostra mas que a verdade
que nunca sonhamos em pensar

e quando o sonho que um dia ousamos viver,
mas que nunca havíamos sonhado, acontecer
que possamos vivê-lo sem pensar
que esse sonho um dia vai acabar

por isso abraçamos, beijamos e nos damos
um ao outro de forma intensa e despreocupada
para que essa realidade mereçamos

pois além desse sonho não há nada
que possa fazer que um dia padeçamos
nesse sonho dessa noite enluarada

Não discutamos aqui a qualidade da obra que a alguns pode agradar, a outros não. O fato é que foi escrita e publicada em 2001 e, naquele momento, confesso que senti muito orgulho, me senti muito bem. Alguns anos mais tarde, eis que começo minha aventura blogueira. Embora com pouco lirismo e muita crítica, mas me expressando mais constantemente (apesar dos constantes hiátos) na forma escrita.

A razão desta postagem não é divulgar um poema de minha autoria. Com certeza serve a esse tipo de exposição, como também uma parte autobiográfica, mas não é a intenção principal.

Como disse, esse soneto foi publicado em 2001. Nessa época, a edição online do Jornal O Dia contava com uma área de literatura que permitia, dentre outras coisas, que anônimos como eu publicassem seus trabalhos por mais amadores que fossem. Era o Contextos, um portal literário agregado ao O Dia Online.

Creio ter publicado de três a quatro poemas, talvez todos sonetos. Minha esposa imprimiu e quandou até hoje um deles, devidamente recuperado na arrumação de hoje (talvez encontre outros). Veja a página impressa aqui.

Eram muitos os trabalhos publicados no Contextos. Pessoas desconhecidas expondo suas veias literárias num meio (a Internet) que ainda cresceria bastante. Isso foi bem antes dos blogs tomarem esse vulto que têm hoje.

Não me recordo quando aconteceu, não fui comunicado (o e-mail cadastrado eu acesso até hoje), mas o Contextos não está mais acessível. Assim como todas as obras que lá foram publicadas e ficaram armazenadas dos servidores daquele portal. Por certo havia alguma cláusula que eximia O Dia Online da obrigatoriedade de guarda permanente daquele conteúdo, embora eu não possa afirmar.

Porém, existe um fato relevante que pode ser utilizado como exemplo prático para corroborar a preocupação com a preservação de conteúdo armazenado em meio digital: Um portal com o objetivo de incentivar e promover a produção e divulgação de conteúdo literário interrompe suas atividades e, com isso, todo aquele conteúdo é perdido. Para sempre? Não sei. Já encaminhei mensagem ao jornal O Dia pedindo informações sobre o Contextos, mas até o momento não houve retorno.

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