Quebrando o silêncio
Admiro muito os escritores, jornalistas, cronistas e blogueiros. Gostaria de escrever mais, com mais constância, com mais regularidade. E também gostaria de produzir textos melhores, mais bem escritos, aprimorando a cadência com que as palavras são lançadas do início ao fim, sem deixar que as ideias expostas percam a coerência.
Além da admiração, tenho profundo respeito pela arte da escrita. É uma arte, talvez como todas as outras, terapêutica. Sim, muitas angústias são extirpadas junto com a derradeira palavra no texto. Em outras postagens cheguei a comentar o que representa, para mim, o ato escrever, e mais especificamente o que escrevo neste blog.
Por isso, esses mais de trinta dias sem que uma única nova linha fosse acrescentada ao TUIST me deixam com certa frustração. Uma sensação de fracasso, para ser extremo. Sei que não há nenhum compromisso formalizado, ou promessa de escrever tantas postagens ou tantas linhas de texto por semana, por mês. Mas não adianta.
Certa vez, durante uma das muitas conversas em mesas de bar, uma amiga contou a um jornalista amigo que eu estava me aventurando na blogosfera. Embora não tenha usado as mesmas palavras, ele me fez uma única pergunta: “Qual a periodicidade com que você publica os textos no seu blog?”. Creio que na época eu tenha respondido “uns 2 por semana”. Não me recordo. Mas qualquer que tenha sido a ordem de grandeza apresentada, eu menti. Bem, não foi realmente uma mentira, pois acreditava que poderia produzir textos com a periodicidade que bem entendesse. Pura arrogância de um novato.
Mas eu estava numa fase em que a natureza de meu trabalho me permitia momentos para isso. Ócio, reflexão, abstração, solidão, concentração. Eu lia mais, pesquisava mais, andava pela cidade observando e formando o que se tornaria uma análise crítica de assuntos tão diversos quanto os que vocês podem ver (ler) desde a primeira postagem, em Dezembro de 2006.
Talvez essa minha limitação, essa minha incapacidade, tenha servido para aumentar meu respeito e admiração por aqueles que melhor escrevem, que mais produzem a arte textual.
Recentemente houve proposta, muito honrosa, especial e que me deixou lisonjeado, de usar essa minha admiração e respeito para atuar profissionalmente, de forma remunerada inclusive. Como ainda não se concretizou, não entrarei em detalhes. Mas são coisas que a arte oferece.
A limitação sobre a qual me referi acima se agrava por uma dificuldade que tenho em memorizar e abstrair. Isso mesmo! Minha memória é algo lamentável. O que se torna mais preocupante com o passar dos anos :)
Por sua vez, minha abstração não se limita a algo intelectual ou filosófico. Abstrair, no meu caso, requer que uma séria de características físicas, ambientas e emocionais estejam em profunda congruência. É quase uma utopia!
Por isso, me protejo sob o manto do amadorismo. Sou um blogueiro-escritor amador.
Essa, digamos, reflexão sobre a escrita se tornou uma constante em minha vida. Porém, recentemente me sinto mais instigado a pensar sobre isso, pois estou cada vez mais admirado com a capacidade e até brilhantismo com que alguns escrevem. Para ser mais específico, cito um livro denso em seu volume (são quase mil páginas) escrito por Ana Maria Gonçalvez. Trata do romance “Um defeito de cor”.
A personagem principal, narradora (e escritora, pois é a história de uma história) chama-se Kahinde. E, quanto mais me aproximo das últimas páginas (neste momento estou na página 917) mais sinto um misto de medo e saudades por chegar ao fim deste romance e não mais acompanhar a vida desta personagem. Este sentimento, confuso e estranho, eu confesso, me faz perceber o quão envolvente uma obra escrita pode ser. E a construção desta obra é algo que me impressiona. Quase mil páginas de coerência em uma história que nada tem de tediosa, que envolve, que instiga, que ensina, que desperta sentimentos extremos como o amor e o ódio, que emociona, que choca, que diverte...
Em parte do enredo, essa história épica lembra um pouco outro livro que me emocionou. “Negras Raízes” de Alex Haley. Lembro que sua leitura me fazia esquecer do demorado e desconfortável trajeto de casa ao trabalho e vice-versa. Foram muitos os livros que me ajudaram nesse momento da minha vida. E mesmo em casa, criando meu próprio mundo entre quatro paredes, me isolando de situações um tanto... destrutivas... Bem, mas o fato é que, numa das passagens desse incrível livro, foi impossível segurar as lágrimas, mesmo estando naquele ônibus lotado. Até hoje não sei se alguém percebeu. Tanto faz. A passagem a que me refiro foi quando o autor descreve a situação dos escravizados no navio negreiro, que sequestrou o personagem principal, Kunta Kinte, levando-o para o novo continente.
Essa narrativa que emociona, esse poder de construir textos que despertam tanta emoção, essa é a arte que mais admiro. E não falo apenas de romances. Textos jornalísticos, críticas, científicos, dentre outros, quando bem escritos, sempre despertam pelo menos minha admiração.
Bem, esta foi a maneira que encontrei para quebrar o silêncio. Espero que a inspiração esteja sempre presente, ou pelo menos seja mais constante, assim como a disposição para lançar mais palavras no TUIST.
Um comentário:
Oi Alex, estava ansiosa por outro post seu, vc sabe que te admiro e apesar de tanto tempo sem contato, espero que você esteja bem e progredindo sempre.
Quanto ao detalhe de memória, a minha técnica é anotar, mesmo que depois não consulte a anotação nunca mais, mas de alguma forma meu cérebro memoriza a informação quando vejo escrita... vai entender.
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