quarta-feira, junho 30, 2010

L'Étranger avec Fraternité (...)

Programa Globo News Especial, exibido em 13/06/2010 sobre a vida dos imigrantes na França.

(...) Com um pouco de Liberté
Mas sem Égalité!

Como comentei em postagem anterior, estive em Paris. Oh, Paris, Paris... A Cidade do Iluminismo, a Cidade Luz. Belas ruas e avenidas, construções cheias de personalidade, Catedrais grandiosas, monumentos incríveis, estrutura e infraestrutura de tirar o fôlego. Torre Eiffel... Louvre... Sena... E pessoas, muitas pessoas de toda parte. Sotaques, vestimentas, cores e olhares que nos fazem pensar estar em várias partes do mundo numa única esquina ou num único vagão de metrô ou numa única sala de exposição, restaurante, praça...

É, de fato, uma cidade atraente. Mas o que seria atraente para muitos, como eu, que estive lá à passeio, torna-se atraente para outros tantos que veem em Paris, ou alguma outra cidade europeia, uma oportunidade de recomeço, uma oportunidade de vida.

Minha curta viagem à Europa começou em Lisboa, onde chegamos em 2 de Junho. Ao sair às ruas, após "largar" as malas no Hotel, uma coisa me impressionou: A quantidade de pessoas de origem africana. AS vestimentas, os olhares, as intonações de vozes. Ainda não havia percebido que a Ásia também se fazia presente, com muitos indianos, assim como países menos favorecidos do leste europeu. Imigrantes. Ilegais? Talvez alguns deles, talvez boa parte deles. Talvez.

Ao chegar em Paris, o que já não era uma simples impressão, mas uma constatação, se consolida quando circulo por ruas quase que totalmente formadas por lojas de artigos, a maioria roupas, indianos. As cores, as formas, o brilho.

Uma das coisas que penso, até por exemplo do que muitos brasileiros vivem ao "tentar a sorte" no exterior, é como seria a relação entre imigrantes e locais. A resposta para essa indagação eu creio que me foi apresentada numa situação que presenciei na tarde do dia 11 de junho na calçada do Museu Nacional de Monumentos Franceses, no Trocadéro.

Naquela região, próximo à Torre Eiffel, vi um grande número de vendedores ambulantes. Em sua grande maioria, de origem africana. O evento que presenciei envolveu um deles. Estávamos caminhando, já retornando para o lado oposto ao Trocadéro, e começou uma discussão entre o vendedor ambulante e um suposto comprador. Sem conhecer o idioma (ou idiomas) que estavam sendo falados ou gritados, não pude saber a razão da contenda. Mas, pela cena, era difícil saber com quem estava a razão, quem era o culpado ou inocente. Naquele momento se aproximou um terceiro ator daquele triste espetáculo sócio-cultural-étnico-racial. Parecia ser um policial ou segurança, estava á paisana. A primeira e única coisa que ouvi, e entendi, foi esse terceiro elemento pedindo, ou melhor, exigindo os documents do vendedor ambulante.

Ficou claro naquele momento que, mesmo estando certo e inocente - se é que estava - o vendedor era o lado mais fraco. Num lado tínhamos o imigrante negro, no outro um turista branco. E, pesando isso tudo, um suposto agente de segurança francês no papel de balança. Uma balança que se vicia a medida que o problema da imigração cresce.

Os sem-papéis, como são conhecidos os imigrantes ilegais, muitas vezes executam funções que os "nativos" dispensam. Alguns dizem que, sem eles, a economia desses países pararia. E isso não é apenas em Paris. Vi isso em Lisboa e muito antes li e ouvi sobre essa questão em outros países. Principalmente nos EUA, cujas informações sobre esse aspecto da sociedade (e da economia) mais facilmente chegava por essas bandas. O que imaginamos ser uma convivência pacífica ou até natural, muitas vezes resume-se numa relação tênue de tolerância vigiada.

E o Estado se faz presente de maneira paradoxal. Se abrindo sem conseguir manter ampla política de bem estar social. E se fechando, sendo taxado como xenófobo. É realmente uma questão complicada. Mas não deixa de ser irônico. Há alguns séculos a França (e Portugal, e Inglaterra...) saiu ao mundo, dominando, colonizando, emigrando. Hoje, podemos dizer que a França está sendo colonizada. Mas relativamente em paz. Outros países não tiveram essa chance.

A arte de viver é simplesmente a arte de conviver...
simplesmente, disse eu? Mas como é difícil!
Mário Quintana

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