O marcapasso é um dispositivo que produz um estímulo elétrico conduzido até o coração quando este apresenta um número de batimentos abaixo do adequado para o funcionamento do organismo, para manutenção da vida. O aparelho compreende que nossa bomba interna precisa ser ajustada e faz esse ajuste.
Homem é baleado na cabeça ao tentar entrar numa agência bancária. O cliente havia sido foi barrado na porta giratória por usar um marcapasso. O crime foi cometido pelo segurança do banco, que está preso. O Banco emitiu nota lamentando e ao mesmo tempo se defendendo, com uma observação sobre o segurança ser de empresa terceirizada. Seria melhor não terem emitido a nota. Ora, será que a empresa a qual pertence o segurança se apossou do banco naquele momento? A agência bancária é de quem afinal?
Quando ouvi a notícia, além de ficar chocado com a violência gratuita (eu ainda me choco), fiquei imaginando como seria a vítima. Sem mais delongas, imaginei naquele momento qual seria a cor de sua pele. Não seria a primeira vez. Dois dias depois eu vi a foto da vítima, o Sr. Domingos Conceição dos Santos. E a dúvida que tive ao ouvir a notícia se dissipou.
Lembram-se do caso do jornaleiro assassinado em 2006 por um segurança do banco Itaú no Rio de Janeiro? O mesmo cenário, os mesmos tipos, a mesma tragédia.
Fico muito intrigado quando ouço discursos vazios e ao mesmo tempo calorosos a respeito das questões raciais no Brasil – ah, pela enésima vez, raça aqui considerada como fenômeno social, sociológico, já que todos sabemos que a palavra é inapropriada e incorreta se aplicada num contexto biológico. Na rua, nos meios de comunicação, no trabalho, nas conversas de botequim... parece que é sempre a mesma coisa. E aí me vem a mente o tratamento que recebi em determinado estabelecimento comercial, a reação da pessoa à frente na calçada ou ao ocupar o lugar vazio no ônibus, ou o repúdio ao lugar vazio quando este é ao meu lado. Me vem em mente comentários sutis com clara conotação racial, seja rebaixando, seja preconceituando ou mesmo conceituando de maneira negativa as pessoas cuja pele é negra em suas várias nuances. Por vezes, tais comentários ou expressões são usados sem que o falante tenha consciência do falado, tamanha é a incorporação e a naturalização disso. Como dizem, está no sangue.
Gostaria que analisassem quando uma pessoa (pode ser você) usa a gíria/expressão “nego” ou “neguinho” ou a forma ainda mais reduzida e simplificada “neguim”. Nego é, neguinho fez, neguinho aconteceu... Contem quantas vezes esse “neguim” ou esse “neguinho” ou esse “nego” representa um sujeito que realizou coisas boas. Acreditem, é um teste interessante.
Alex de Castro, do LLL escreveu um post muito interessante sobre isso há uns dois anos. O título é O uso do nego. Também indico Quem sabe da ofensa é o ofendido, do mesmo blogueiro.
Essas situações me permitem ter uma percepção do ponto de vista do segurança do banco, da loja de departamentos, do supermercado, da atendente da lanchonete, da pessoa na calçada, no ônibus, do colega do trabalho, do colégio. Se nas pequenas situações, no cotidiano, essas sutilezas foram tão enraizadas, tão cruelmente naturalizadas no agir, no falar, no olhar de tantos (e esses tantos não se restringem a uma etnia) dificilmente eu explicaria a ação do segurança da agência como um reflexo livre do contexto racial. Essa má resolvida mazela.
Esse e outros seguranças – não todos, pois generalizar seria um erro – não são preparados para dar segurança às pessoas (e nem à instituições). Não estão preparados para lidar com seres humanos e, justamente por isso, são nocivos aos seres humanos. E estão armados.
Acho que as pessoas deveriam todas usar um marcapasso. Não especificamente para o funcionamento de nossa bomba interna, mas um que emitisse um estímulo a nossa consciência todas as vezes que detectasse que nossa visão do outro está sendo deturpada por nossos preconceitos (ou conceitos). Um marcapasso que nos permitisse compreender que o outro somos nós.
"Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter." - Martin Luther King
Lembram-se do caso do jornaleiro assassinado em 2006 por um segurança do banco Itaú no Rio de Janeiro? O mesmo cenário, os mesmos tipos, a mesma tragédia.
Fico muito intrigado quando ouço discursos vazios e ao mesmo tempo calorosos a respeito das questões raciais no Brasil – ah, pela enésima vez, raça aqui considerada como fenômeno social, sociológico, já que todos sabemos que a palavra é inapropriada e incorreta se aplicada num contexto biológico. Na rua, nos meios de comunicação, no trabalho, nas conversas de botequim... parece que é sempre a mesma coisa. E aí me vem a mente o tratamento que recebi em determinado estabelecimento comercial, a reação da pessoa à frente na calçada ou ao ocupar o lugar vazio no ônibus, ou o repúdio ao lugar vazio quando este é ao meu lado. Me vem em mente comentários sutis com clara conotação racial, seja rebaixando, seja preconceituando ou mesmo conceituando de maneira negativa as pessoas cuja pele é negra em suas várias nuances. Por vezes, tais comentários ou expressões são usados sem que o falante tenha consciência do falado, tamanha é a incorporação e a naturalização disso. Como dizem, está no sangue.
Gostaria que analisassem quando uma pessoa (pode ser você) usa a gíria/expressão “nego” ou “neguinho” ou a forma ainda mais reduzida e simplificada “neguim”. Nego é, neguinho fez, neguinho aconteceu... Contem quantas vezes esse “neguim” ou esse “neguinho” ou esse “nego” representa um sujeito que realizou coisas boas. Acreditem, é um teste interessante.
Alex de Castro, do LLL escreveu um post muito interessante sobre isso há uns dois anos. O título é O uso do nego. Também indico Quem sabe da ofensa é o ofendido, do mesmo blogueiro.
Essas situações me permitem ter uma percepção do ponto de vista do segurança do banco, da loja de departamentos, do supermercado, da atendente da lanchonete, da pessoa na calçada, no ônibus, do colega do trabalho, do colégio. Se nas pequenas situações, no cotidiano, essas sutilezas foram tão enraizadas, tão cruelmente naturalizadas no agir, no falar, no olhar de tantos (e esses tantos não se restringem a uma etnia) dificilmente eu explicaria a ação do segurança da agência como um reflexo livre do contexto racial. Essa má resolvida mazela.
Esse e outros seguranças – não todos, pois generalizar seria um erro – não são preparados para dar segurança às pessoas (e nem à instituições). Não estão preparados para lidar com seres humanos e, justamente por isso, são nocivos aos seres humanos. E estão armados.
Acho que as pessoas deveriam todas usar um marcapasso. Não especificamente para o funcionamento de nossa bomba interna, mas um que emitisse um estímulo a nossa consciência todas as vezes que detectasse que nossa visão do outro está sendo deturpada por nossos preconceitos (ou conceitos). Um marcapasso que nos permitisse compreender que o outro somos nós.
"Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter." - Martin Luther King
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