terça-feira, maio 04, 2010

A Bruxa, as Malandrinhas e os Arquivos

As duas reportagens exibidas no último Domingo (2) no programa Fantástico falam por si. Seja na monstruosidade da procuradora, seja na falta de caráter e ética das três estudantes de medicina de Maringá.

Na primeira, a grande dúvida é como alguém permite que uma facínora tenha a guarda, mesmo que provisória, de uma criança. Agora com o agravante: a justiça (sic) já havia topado com a criatura bestial. Na segunda história temos jovens acima de qualquer suspeita... até que as analisemos a luz da ética, da lei, do que é justo e do que é de bem. O agravante neste segundo caso, a meu ver, é que elas (e tantos outros) acreditam estar fazendo algo aceitável, normal, tolerável. Reparem no depoimento do diretor da instituição.

Três estudantes de medicina da Uningá, em Maringá (PR) recebem bolsa integral da ProUni. Elas não preenchem os requisitos para ter o benefício



Ficou constatada as lesões em datas diferentes, em um período de 30 dias. Vera tinha conseguido a guarda provisória e o direito de ficar com a menina enquanto aguardava a adoção definitiva.



Mas tudo isso é notório. A repugnância que ambas as demonstrações de sordidez geram não é apenas em mim.

Gostaria, porém, de abordar os casos sob outro ângulo. Quando penso na questão da informação, dos arquivos, vejo que as duas têm algo em comum: o mau uso ou o desuso da informação. É simples, e explico meu ponto de vista em cada caso.

Das criminosas de Maringá - Para obter o benefício, as estudantes devem apresentar documentos que comprovem a situação financeira de sua família. Todos esses dados passam (ou deveria passar) por análise. Como é um programa federal, o cadastro dessas estudantes é composto por esses dados, dentre eles, os CPFs dos pais. Logo, a União tinha essa informação. Com toda a informatização que temos hoje, com um dos mais modernos sistemas para declarações de renda existe, é difícil acreditar que uma auditoria automática não poderia ser feita regularmente nos beneficiários do programa. Ou não há interesse, ou a informação está de tal maneira desorganizada que dificulta ou mesmo inviabiliza seu uso.

Da megera agressora no Rio - Essa criatura horrenda que torturou a criança já havia aprontado das suas. As ações criminosas do passado geraram informações que ficaram registradas em documentos de órgãos do Estado. Esse mesmo Estado intermediou e deu o "ok" para a guarda provisória. Será que procuraram conhecer o passado dessa anomalia em forma de pessoa? Não se trata de uma pesquisa em cartório ou entrevista com parentes e conhecidos ou seções de interrogatório. Bastava buscar a ficha da canalha no "armário da sala ao lado".
A informação, em ambos os casos, existia. Se os jornais tiveram acesso! Porém, não houve interesse de uso. Eu digo interesse, pois, com certeza, se interessasse aos ocupantes de cargos públicos que a informação - pública - fosse acessível, ambos os crimes poderiam ser facilmente coibidos.

O resultado dessa falta de gestão informacional, que se apresenta em várias esferas do poder público (e em muitas empresas do setor privado) é esse: num caso, dinheiro que poderia literalmente salvar vidas, se bem empregado, estava servindo para bancar três (e quantas outras?) patricinhas numa faculdade de quinta categoria e, pelo visto, corrupta; no outro, as marcas foram deixadas no corpo de uma criança de dois anos, em atos de covardia desferidos durante semanas.

São duas tragédias que vieram a público. Quantas outras ignoramos?

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