Há algum tempo estava conversando sobre antigos hábitos alimentares.
Boas lembranças de décadas atrás, da infância e adolescência em Mesquita.
Falava sobre verduras hoje difíceis de vermos a mesa. Tais como a bertalha, a serralha
e a taioba. Outras muito menos conhecidas até pelos mais antigos que sempre
viveram na “cidade”, mas que faziam parte de minha alimentação quando criança.
Como o caruru-do-mato, por exemplo, refogado ou feito com fubá.
Na conversa lembrei também da “ponta de abóbora”, como chamávamos
a ponta da planta. Não o fruto, mas a extremidade, o broto, que minha tia-avó
fazia refogada e até hoje o cheiro e o gosto e a textura me causam boas
recordações. Utilizava-se também o mamão verde, no lugar do chuchu, deixando os
ensopados de peixe e camarão muito mais gostosos. Neste caso, era minha avó e
autora dos deliciosos pratos.
E por falar em frutas, algo que sempre questiono é o sumiço
da goiaba branca. Para usar uma palavra que virou moda na construção de
expressões de impacto, parece haver uma ditadura da goiaba vermelha. Sem falar da
cana-caiana, do araçá, dos diversos tipos de manga que tínhamos ao alcance.
Apesar de termos hoje mais recursos, vejo que empobrecemos.
E ficamos monótonos também. Repetitivos mesmo. A mesmice à mesa parece imperar.
Ao contrário do que apregoa o dito popular, parece que a
riqueza não pôs a mesa. Pelo menos não uma variada, em gostos, formatos,
texturas, cheiros, temperos...
Há mais ou menos uma semana estava eu em Mesquita,
caminhando para um ponto de ônibus com a intenção de visitar minha tia em
Nilópolis. Atravessei próximo a um grande ingazeiro que fica no canteiro da Avenida
Getúlio de Moura, na esquina com a Rua Regina. Aliás, existiam ou existem
(espero eu) vários ingazeiros ao longo dessa avenida. Não deixei de verificar
se existia algum ao alcance das mãos, pois ao contrário do que fazia quando
criança, eu não achei conveniente (lê-se: vergonha) jogar pedras e balançar
galhos para forçar a queda e satisfazer minha vontade.
Olhei então para o chão e vi um verdadeiro tapete de ingás,
já pisados, secos, ao tempo. Percebi, com certa tristeza, que as crianças de
Mesquita nem sabem que aquela fruta é comestível, não conhecem a doçura e nem a
aventura da “colheita”.
Mas em Mesquita ainda tem ingá. E ninguém mais pega.
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