sexta-feira, julho 30, 2010

Da Coca-cola ao Louvre
A educação comparada

Tenho algumas boas recordações do tempo de escola. Consigo “regressar” até o jardim de infância. Hoje o lugar já não é uma escola. Bem, já fazem uns 27 anos! Depois disso, um ano no segundo e último colégio particular, para concluir a alfabetização (na verdade, comprovar) e a primeira séria que, com as recentes mudanças, eu não sei mais como se chama esse período escolar. Depois disso, entregue ao Município e então ao Estado. Nesses tantos anos de escola não me recordo de muitos passeios. Mas dois deles eram emblemáticos, quase obrigatórios: Zoológico e fábrica da Coca-Cola. No primeiro eu tenho certeza de não ter ido. No segundo, sim, eu estava lá.

Eu acredito, hoje, que toda a experiência de vida pode ser usada como aprendizado. Não sei se ou quanto minha vida seria diferente se tivesse participado do passeio ao zoológico. E, da mesma forma, não acredito que a visita à fábrica do refrigerante tenha acrescentado algo. Ali não aprendi química, nem o processo de fabricação ou logística industrial. E, se pensarmos no apelo consumista ou na “fabricação” de consumidores, aquela empresa já trabalhava esse aspecto num marketing de massa. Além disso, naquela época eu tinha preferência por algo mais acessível: o guaraná Simba! Mas isso é outra história.

Essas lembranças dos passeios escolares do meu passado têm o propósito de lançar um olhar crítico sobre o ensino. Pelo menos o ensino que tive. Eu imaginava, naquela época, que os passeios serviam apenas para tirar as crianças do ambiente escolar e proporcionar diversão descompromissada. Não tinha a noção de ensino fora dos muros escolares. E, cá entre nós, essa nobre possibilidade não era o que motivava certas atividades externas. Museus, pontos históricos, bibliotecas públicas, exposições... são exemplos de destinos que não estavam no itinerário dos ônibus que conduziam aquela penca de infantes.

Me embrenho por este assunto por conta do impacto que tive recentemente, em minha curta e incompleta visita à Paris, quando me deparei, em várias ocasiões, com crianças tendo aulas externas. A foto que ilustra esta postagem foi tirada na Basílica de Sacré Cœur, mais que uma igreja, um monumento histórico dentre os tantos conhecidos naquela linda cidade. Me chamou a atenção a organização, as crianças uniformizadas e “sinalizadas”. Acompanhadas de instrutores, professores e outros profissionais que se mostravam bem dedicados. Pelo menos aparentavam. Em outra ocasião, essa bem mais significante e evidente quando se fala em ensino e aprendizado em passeios, aconteceu no Louvre. Eram vários grupos escolares. Alguns, fazendo trabalhos escolares em meio às exposições, munidos de cadernos e lápis, analisando itens, escrevendo, conversando entre si, ouvindo, atentas, as histórias e explicações de seus professores. Foi um momento de surpresa e encanto. Mas também de interrogação sobre as muitas e belas possibilidades que aquelas crianças teriam em sua formação cultural e intelectual.

E, como bem devem imaginar, naquele momento eu lembrei, e muito, do meu passado. Lembrei de um determinado passeio a uma tal fábrica de um certo refrigerante.

quinta-feira, julho 29, 2010

Um leitor escreve o que muitos pensam
E a mesmice é propagada como relevante novidade

Espaço bastante democrático, embora eu não entenda qual o critério para o uso, a versão online do jornal O Globo permite que leitores escrevam e publiquem artigos. Eu mesmo já postei no Eu-repórter. Também existe o serviço Opinião do Leitor. Creio que os textos passam por revisão, mas a essência está lá. O pensamento, o sentimento externado em palavras escritas. É algo que gosto muito. O TUIST é um pouco disso. Um espaço para desabafos literários. Mesmo que não profissional. Aqui, embora transcrevo minhas angústias pessoais, meus preconceitos, meus medos, minhas revoltas (e outras coisas mais), tenho certeza que tais revoltas, medos, preconceitos e angústias são familiares de outros. Assim são os textos, as postagens, as opiniões, tanto em blogs (amadores) como em jornais (profissionais). A opinião de um pode refletir a opinião de outrem.

Hoje, estava fazendo minha varredura diária do portal de notícias, e fui atraído pelo título Hipocrisia do "politicamente correto". Leia aqui. O texto, escrito por um leitor, é pensado e redigido dentro do contexto do Estatuto da Igualdade Racial, instituído e recentemente sancionado com a Lei 12.288 de 20 de Julho de 2010. Confesso que ainda não a li na íntegra, mas lerei. É um assunto que me interessa, por motivos que não são tão óbvios quanto minha foto aí em cima pode levar a crer.

Voltemos ao artigo do leitor... Enquanto fazia a leitura, foi como se me deparasse com algo já visto, um texto já lido, uma história já contada. E é realmente isso, o âmago, a substância, é algo mais que explorado. Chego a conclusão que o discurso não mudou. Temos lá a genética, a evolução, as pesquisas que interessam, as porcentagens impactantes, as frases de efeito, a diversidade semântica, as aspas, as comparações, os exemplos... Enfim, temos lá uma opinião formada, um pensamento consolidado, um conceito.

A impressão que tenho é de muitas pessoas escrevendo, não apenas o leitor, ou um leitor, que usou o espaço democrático daquele portal de notícias. Aquelas palavras pareciam ter sido escritas por uma multidão de pessoas que reafirmavam algo em prol do que chamavam de igualdade. "Somos todos iguais" diz a derradeira frase.

Os comentários funcionam como um complemento, fortalecendo tudo o que o texto tem a oferecer. Todo esse conjunto, texto e comentários, me mostram (talvez mostrem a outros) o quanto é complicada a questão rac... a questão da cor da pele na sociedade. A fervorosidade com que os que são contra e os que são à favor exprimem suas opiniões só perde para a falta de criatividade e a mesmice com que tais opiniões são externadas. O resultado é a velha propriedade física da inércia. Um conjunto de forças de resultante nula.

Em minha opinião, muitas pessoas, geralmente as que têm espaço midiático ou mesmo acadêmico, estão desumanizando uma questão que, em primeiro lugar, deveria considerar o fator humano. Eu não sou um ponto percentual! Eu respiro, vejo, escuto. Eu sinto. Eu vivo.

Mas essa inércia é aparente (eu espero). O primeiro, e melhor, passo para resolver certos desacertos (sociais, humanos, psicológicos, etc) já está sendo dado. Mesmo que ao ritmo de uma canção, no dois prá lá, dois prá cá. Estamos falando. Estamos tocando no assunto. Estamos trocando uma idéia, sobre tudo o que está aí.



sexta-feira, julho 09, 2010

PEC 89/2003. Ao Juiz, o que é justo!

Se um dia critiquei, nesse caso específico eu aplaudo. Senadora Ideli Salvatti (PT-SC), autora da PEC - Proposta de Emenda à Constituição, nº 89 de 2003 de 18/11/2003 que "dá nova redação aos artigos 93 e 95 da Constituição Federal, para impedir a utilização da aposentadoria dos magistrados como medida disciplinar e permitir a perda de cargo, nos casos que estabelece."

Até então, se um Juiz comete um crime (ou seja lá qual for a palavra amena que se use ao invés de... crime) o castigo, a punição, a pena, era a aposentadoria. E com toda a pompa que o cargo permite e o nosso dinheiro paga. Uma aberração, assim como o foro especial.

Bandido, esteja ele atuando como juiz, presidente, deputado, vereador, senador... goleiro, merece a cadeia. Isso, sim, é justiça.

Matéria relacionada: "Aposentadoria deixa de ser punição para juízes" - O Globo

quinta-feira, julho 08, 2010

O Analfabeto Político

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Bertolt Brecht (1898 — 1956)

A menina no mercado

Havia uma menina no mercado. Devia ter uns 12 anos. Talvez menos. Estava atrás de mim no caixa. Tinha dois pacotes de macarrão instantâneo n...