domingo, dezembro 13, 2009

Racismo: uma confusão semântica?

É aquela velha história: a polícia prende e a “justiça” solta. Listo o nome deles (Está publicizado - clique aqui- eu uso): Emílio Pechulo Ederson (Belém/PA) e com 20 anos, Felipe Grion Trevisani (Campinas/SP), de 21, Abrahão Afiune Júnior (Ribeirão Preto), de 19 aninhos.

São estudantes de medicina de uma faculdade particular de Ribeirão Preto. Foram presos e soltos. Leia aqui. Irei me referir aos acusados seguindo a mesma maneira tendenciosa e preconceituosa da mídia em casos similares, isto é, onde os criminosos - do sexo masculino, adolescente ou pós-adolescente - fogem ao estereótipo “esperado” do praticante de delito: eu os chamarei de “jovens”. Poderia também chamá-los de “universitários”. Sempre algo respeitoso, adequado, leve.

Pois bem, resumindo a história: “Os três jovens estavam em um carro e enrolaram o tapete do veículo para bater nas costas da vítima, que caiu no chão. Testemunhas que estavam em um posto de combustíveis chamaram a polícia, que prendeu o trio.” Fonte: O Globo Online.

Se prestarem atenção nas reportagens dos jornais e outras mídias que divulgaram o caso, talvez um detalhe passe despercebido. Mas isso me intrigou, embora tenha plena consciência de que deve haver alguma “desculpa legal” (ou logística, ou sorte, ou... sei lá) que justifique. O juiz que concedeu a liberdade aos jovens, aceitando a alegação da defesa de que não houve agressão nem a conotação racial para que os três jovens ficassem presos, meritíssimo Ricardo Braga Monte Serrat (o sobrenome é aqui apresentado como grafado no site do Tribunal de Justiça de São Paulo, embora a mídia esteja usando Montesserat), da 1ª Vara da Família e das Sucessões de Ribeirão Preto. Isso mesmo, um juiz da Vara da Família. Teria ele competência para isso? Provavelmente sim. Afinal, juiz é juiz! Mas o que a lei diz sobre competência de um Juiz da Vara de Família? Vamos à Lei nº 11.697, de 13 de Junho de 2008. Bem recente. Veja lá. Artigo 27. O tema é rico, vamos pra outra…

A ciência biológica, com o desenvolvimento da pesquisa genética, deixou claro: não existem raças. Logo, não existe racismo, racista. Logo, cota racial é uma insanidade e vai acabar gerando um conflito de... raças… que não existe no Brasil, que é um paraíso… racial. Afinal de contas é preciso que todos entendam que somos uma raça apenas: a humana. Que lindo!

Aí que penso estar todo o problema. Ficar defendendo a existência de outro conceito de raça, o sociológico, cansa e não está levando ninguém a lugar algum. Além de começar a ficar repetitivo assim como o mantra “não existem raças… somos todos da raça humana”.

Por isso é preciso trabalhar mais o assunto. Talvez semanticamente. Criticando os conceitos, analisando, quebrando e refazendo as palavras e expressões, comparando, fazendo analogias… Se não conseguimos nada, pelo menos se cria alguma confusão, algum desconforto.

A primeira coisa que venho pensando é sobre a palavra “racismo”. Como a questão está mais relacionada à cor da pele, poderíamos usar isso. Mantemos apenas o sufixo ISMO e passemos a usar COR como radical. Com isso, poderíamos dizer que os jovens cometeram corismo. É um tanto ridículo, mas talvez o neologismo acalme os corações dos que não aprovam a outra expressão. E também, quem sabe, ajude juízes e outras autoridades na interpretação das ocorrências.

A segunda coisa que me vêm à mente está relacionada ao mantra “não existem raças… somos todos da raça humana”. Vocês leram a descrição do ato que fez com que os jovens fossem parar no xilindró. Segundo a polícia, ainda gritaram "toma nego!" ao agredirem, com o tapete de borracha do carro enrolado, o auxiliar de serviços Geraldo Garcia, quando este andava de bicicleta a caminho do trabalho. Pois bem, vocês enxergam alguma humanidade nesse ato? Ok, o ser humano é capaz de atos dos mais horrendos. Mas, por um momento, vamos pensar ou considerar o “humano” no sentido adjetivado de humanitário.

Nesse sentido, se bem me entenderam, os jovens não se enquadram na categoria de seres humanos, não são da raça humana. Emilinho, Felipinho e Juninho são bichos (que me desculpem os animais).

São três bichos privilegiados que, por sua [e de seus “donos”] condição social e financeira, podem agredir seres humanos e serem liberados pela “justiça” para que voltem para suas famílias, onde são bem criados.

Para finalizar, e considerando que os jovens bichos cursam medicina (sic), duas belas passagens do Capítulo I [Princípios Fundamentais] que constam do atual Código de Ética Médica. Será que os jovens já leram? Será que os bichos sabem ler?

Art. 1° - A Medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade (…)

E o melhor

Art. 6° - O médico deve guardar absoluto respeito pela vida humana (…)

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