sexta-feira, abril 22, 2016

Autógrafo na era do e-book

Há uns 15 anos, num dos ótimos momentos da roda de samba que acontecia no Museu da Imagem e do Som (MIS), em sua sede da Praça XV, no Centro do Rio, ocorreu o lançamento do Livro A Velha Guarda da Portela de Carlos Monte (pai da maravilhosa Marisa Monte) e João Baptista M. Vargens.

Foi um momento mágico. Muitos artistas compareceram. Beth Carvalho, por exemplo, lá estava. E outros tantos. Comprei o livro, como não poderia deixar de fazê-lo. A leitura foi prazerosa. As muitas histórias de cada um dos integrantes da Velha Guarda, contadas com linguagem fácil e descontraída, foram ali registradas para que todos pudessem conhecer um pouco mais da vida daqueles senhores e senhoras do samba. A Velha Guarda da Portela estava vivendo, e proporcionando, uma ótima fase. Shows, evidência no espaço cultural.

Nunca gostei de abordar famosos para autógrafos. E no MIS não foi diferente. Somado ao fato de que estava bem cheio e a aproximação mais difícil. Mas tive outra oportunidade. A Velha Guarda (ou alguns de seus integrantes) comandava uma pequena casa de show, muito bem localizada num sobrado da Rua Primeiro de Março, também no Centro do Rio. E, pouco tempo depois, entre um samba e uma cerveja, lá estava eu no camarim, com aquelas lendas vivas colhendo autógrafos. Mais um momento mágico.

Pausa de alguns anos. Alguns sambas depois. Muitos livros depois. Muitas cervejas depois…

O lugar é outro. Renascença Clube. Com toda sua força e história. O livro também era outro. Poétnica. Livro com poesias do autor produzidas no período de 1966 a 2013. O autor? Nei Lopes. Com toda sua força e história. Com toda sua consistência artística e intelectual. Além de autógrafo com dedicatória, tive o privilégio de uma foto. Momento mais do que mágico. Seguido por uma roda de samba. E algumas cervejas.

Outros livros foram autografados ao longo desses anos. Caneta no papel. Dure o tempo que durar.

Ao longo desses anos surgiu na minha vida de leitor o e-book. Tenho um Kindle. Facilidade de aquisição. Preço. Variedade. Internet, sincronização e lá está o ícone do livro novo. Livro? 

E meus autógrafos? Será com assinatura digital?
E minha dedicatória? Será um e-mail para ser anexado?
E o olhar do autor? E o deslumbramento de estar diante de quem produziu aquela história, aquelas palavras? 
E a fila para colher a assinatura?
A caneta no papel?

Os argumentos contra e a favor do livro digital, do e-book, são tão frios quanto um click e tão vazios quanto as prateleiras de uma biblioteca sem papel.

Nenhum comentário:

A menina no mercado

Havia uma menina no mercado. Devia ter uns 12 anos. Talvez menos. Estava atrás de mim no caixa. Tinha dois pacotes de macarrão instantâneo n...