Muitas obras, algumas
violências e tantas hipocrisias.
O Centro do Rio
sempre me despertou admiração e encanto. Principalmente pelas construções
antigas, carregadas de histórias. Os sobrados, os casarões, os palácios, as
ruas…
Uma das coisas que a
insegurança, ou a sensação de insegurança, nos tira é a oportunidade de
contemplação. Mas nem sempre foi assim, tão proibitivo (e pouco recomendado)
contemplar os sobrados, os casarões, os palácios, as ruas…
O Rio passa por uma
transformação. Os Jogos Olímpicos parecem pedir uma mudança de paisagem. O Rio
precisa de roupa nova para essa festa. E contamos que as vestimentas sejam de
qualidade e duradouras. Embora, pelo acontecimento recente e triste na Ciclovia
Tim Maia…
VLT, Museu do Amanhã,
Museu de Arte do Rio, Aquário, Passeios públicos, Túneis… As obras são
diversas.
Infelizmente não são
apenas obras de melhoria que vemos se multiplicarem. Os assaltos também. O Rio
de Janeiro, em particular o Centro do Rio, Cidade Olímpica, está cada vez mais
violento. Os assaltos ocorrem diariamente, em vários pontos da cidade,
independente do período do dia, independente da presença de aparato de
“segurança”. E as aspas nunca foram tão adequadas para se falar em segurança no
Rio de Janeiro. Nem a presença da mídia coibe a ação dos assaltantes. Assaltantes
de todas as idades.
A insegurança é um
monstro. E, como todo monstro, se alimente de algo para crescer e se
multiplicar, para tomar espaço.
Será que todo celular
roubado será utilizado pelo criminoso que praticou o assalto? E cordões,
relógios? Duvido muito. Arrisco dizer que a maioria dos itens serão convertidos
em dinheiro para, aí sim, ser usufruído de algum modo por aquele assaltante.
Mas, como se dá a transformação
dos celulares, dos cordões, dos relógios, em dinheiro? Comércio! Alguém precisa
adquirir a mercadoria. Compra e venda. Oferta e procura. Simples assim.
Mas o monstro tem uma
dieta diversificada. Por isso cresce saudável.
Há alguns anos tenho
percebido a tranquilidade que algumas pessoas consomem maconha nas ruas do Centro
do Rio. Sim, fico chocado, impressionado, preocupado e indignado, ao passar por
pessoas fumando maconha em plena Avenida Rio Branco, ou na Presidente Vargas,
as duas principais vias do Centro, às três da tarde de um dia útil.
Recentemente alguns
veículos de imprensa noticiam o combate ao tráfico no Morro da Conceição. Um
morro no coração do Centro do Rio, de grande importância histórica, com
construções seculares e grande potencial turístico, a exemplo de Santa Teresa.
A região no entorno
do Morro da Conceição conta com alguns dos aparelhos culturais novos ou
recentemente valorizados por conta da revitalização da região portuária. Dois
museus, bares, bailes de rua.
As pessoas que
trabalham no Centro, em especial nas proximidades da Praça Mauá, têm ali um ponto
de fácil acesso para curtir.
Infelizmente o
consumo de entorpecentes parece fazer parte desse “curtir” para muitas pessoas.
E, mais uma vez, temos a velha questão de causa e consequência. Procura e
oferta. Compra e venda. Consumo e fornecimento.
E quando o ponto é
bom, o comerciante se esforçará para se manter ali. A logística é fácil, pois
ele pode entregar a mercadoria ao consumidor em pouco tempo. E o consumidor
existe e tem condições financeiras para consumir o seu produto. É simples. É
muito simples.
Mas infelizmente
temos outro tipo de alimento em abundância, muito apreciado pelo mesmo monstro:
a hipocrisia.
Comprar mercadoria
roubada é crime e alimenta o crime. A desculpa do desconhecimento é tão
perniciosa quanto o próprio ato de comprar mercadoria roubada.
Quem cheira uma
carreira de cocaína deve saber que é responsável por toda uma cadeia de
acontecimentos até ali, e além dali, envolvendo sofrimento de muitos. O mesmo
para os que consideram o ato de fumar maconha coisa inocente e aceitável. Que o
ato de acender um baseado ilumine todos os acontecimentos até ali, e além dali,
e que o tragar traga também responsabilização.