terça-feira, novembro 18, 2014

Eu, um passageiro no A72077

Linha 143, Central-Gávea (via Jóquei/Praia do Flamengo), antiga linha 158. Sinceramente não sei em que a mudança de números nos ajuda. Mas os planejadores de tudo isso devem ter suas razões, talvez até científicas (sic), para tais mudanças.
 
Bem, identificada a linha, início esta sessão de postagens tipo desabafo-manifestação-protesto contra falta de humanidade, profissionalismo, consciência, respeito, noção, limites... dos motoristas de ônibus, cobradores e, claro, as empresas de ônibus. Não deixarei de lado os passageiros que se mostrem merecedores de minhas críticas (positivas ou não). E, como a maioria de minhas viagens é no trajeto casa-trabalho-casa, deverei me referir/ater a algumas das “43 empresas que operam no sistema de transporte coletivo na cidade do Rio de Janeiro”, integrantes dos quatro consórcios representados pelo Rio Ônibus.
 
A propósito, os “maravilhosos” contratos de concessão assinados em 2010 têm duração de 20 anos e "será prorrogado" por mais 20 anos! Agradeça a Secretaria Municipal de Transportes, por um pesadelo previsto para terminar em 2050.
 
O trajeto é curto, pois tenho o privilégio de morar próximo ao trabalho. Mas a distância não me isenta de presenciar, sofrer e perceber os absurdos que ocorrem. E, se tudo o que vejo acontece nos poucos quilômetros que separam meus pontos de embarque e desembarque, é possível vislumbrar o que ocorre nas viagens entre um ponto final a outro, em cada uma das viagens de cada uma dessas 43 empresas.
 
Bem, hoje pela manhã o “embarque” se deu pouco antes da 8:00. Como tantos outros pontos, o que utilizo só funciona bem na convergência de dois fenômenos: trânsito bom e motorista educado. Raridade. Logo, o motorista parou praticamente no meio da rua, manobrando para “cortar” o veículo à sua frente. Pelo posicionamento dos veículos, o espaço da calçada ao ônibus não oferecia tanto risco. Fui.
 
Ao subir, como sempre, ofereço meus cumprimentos ao motorista. Um bom dia, boa tarde, boa noite, não faz mal a ninguém. Creio já ter escrito aqui no TUIST algo sobre a reação das pessoas ao ouvirem essas palavras que por vezes parecem ser recebidas como um insulto.
 
O motorista não respondeu. Arrancou com o veículo assim que meus dois pés estavam no ônibus. Muita consideração dele.
 
A senhora cobradora, sentada lateralmente em seu “trono”, bem atenta ao trânsito à frente e pouquíssimo atenta a seu ofício, também não retribuiu o cumprimento. E, considerando que uso o RioCard, minha interação no veículo é apenas com a tal maquininha, que geralmente é muito gentil no momento em que aproximo o cartão.
 
Passei a roleta com a opinião reforçada sobre a possível e viável substituição da figura do cobrador por uma máquina, por um robô, por um sistema qualquer que interagisse com o ser humano independente da forma de ingresso (cartão, gratuidade, dinheiro…).
 
No momento em que escrevo, duas lembranças me veem a caixola. A primeira é sobre o projeto de veículo autônomo. Com certeza aquele motorista ficaria contente em não ser mais submetido aos meus cumprimentos ou a ter de parar em lugares pré-determinados para alguém atrapalhar sua viagem, seu dia, sua vida. Google, por favor, aprimore o projeto! A outra lembrança tem relação com viagem recente a dois países europeus (Portugal e França). Viajei de ônibus “comum” em ambos os países e senti a tal “vergonha alheia” pelo que os turistas passam por aqui.
 
Viagem que segue. A deselegância do motorista se fez notar ao longo do curto percurso. Acelerações e desacelerações bruscas. Possível falta de estabilidade emocional causando instabilidade no veículo e a consequente insegurança e desconforto do passageiro. E tudo isso num bate papo indispensável e constante e animado com a cobradora, mostrando que a equipe é unida e jamais será vencida por aqueles que, por sua natureza, estão ali só de passagem.
 
O nível do serviço prestado pelas empresas de ônibus é muito baixo. Seus funcionários, em sua maioria, não estão preparados para lidar com o público. Não entendem – talvez porque até agora não os interessa – seu papel perante a sociedade, no sistema de transporte público e perante os seres humanos que atende. Tenho certeza que o lucro aferido pelos empresários do setor é de alto nível, permitindo que eles e os seus não precisem se submeter aos constantemente constrangimentos que sofrem os passageiros.
 
Termino esse primeiro relato, alongado com informações além da viagem em si, respondendo a pergunta timidamente exibida nos veículos: como estou dirigindo?
 
Mal, muito mal.
 

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