Copa, Olimpíadas... Falta apenas quase tudo
Nesta segunda-feira (25) eu fiz mais uma daquelas curtas viagens à trabalho. Foi o tipo de viagem que não serve nem como passeio. É apenas distância de casa, solidão em quarto de hotel e trabalhos e tarefas que fico pensando se realmente irão contribuir para algo. Espero que sim. Mas sei lá...
Bem, a ida foi de carro. Washington Luis (RJ), Linha Vermelha (RJ), Dutra (RJ/SP), mais umas estradas e lá estava eu em Guararema. A primeira rodovia estava livre. Uma blits na segunda e alguma retenção na terceira, por conta de um eterna obra de duplicação. Obras! Total: 4 horas.
Bem, terminado o trabalho, com intermináveis reuniões e alguns aborrecimentos, de volta a estrada. Dessa vez para Guarulhos e de lá direto para o Galeão. Ah, sim. A volta será pelo ar. Mas rápido né? Deveria. Inicio da volta: 13:40
Aeroporto de Guarulhos. Internacional. O mais importante do estado mais rico dessa grande nação. Pessoas indo e vindo, chegando e partindo, de e para vários países de todos os continentes. Porta de entrada (e saída) do Brasil.
Bilhete na mão. Voo TAM saindo de GRU para GIG às 15:40. Olho no relógio e vejo que cheguei cedo demais. Bem, o jeito é esperar. Um passeio pelo aeroporto é sempre interessante. Figuras de todo o tipo aparentemente angustiadas para serem vistas, notadas. É engraçado.
Perto do horário, me encaminho para a área de embarque. Check-in devida e previamente feito. Facilidades "internéticas"!
Opa, uma fila para a verificação de praxe. Tira relógio, tira chave, tira moeda... Passei no teste. Mais uns minutos e o voo sai, certo? Errado. “Por atraso na aterrizagem da aeronave... blábláblá... o embarque do voo tal será realizado às 16:20” Solto um palavrão. Um tanto alto demais, daqueles espontâneos. Ok, tudo bem. “Paciência é uma virtude”, já diria um gaiato lá da empresa. Estou armado. Livro. Embora não seja o tipo de assunto ideal para o processo de espera, o que eu tinha era uma espécie de ensaio. Uma análise, meio filosófica, conceitual a respeito da relação entre a memória, a história e o esquecimento (opa, disse o título). Por falar em esquecimento, aquelas foram horas para serem esquecidas. Ou talvez não. Eventos como aquele deveriam (como tento aqui fazer) servir como ferramenta de protesto e instrumento de mudança para questões tão problemáticas quanto a atual situação dos aeroportos brasileiros.
E o mesmo anúncio foi dado para outros voos. Aliás, nos voos previstos naquele período, todos (e de todas as companhias aéreas) sofreram atraso.
Voltemos. Passados os 40 minutos previstos e mais alguns (muitos), finalmente aquela voz distorcida anuncia o embarque. Mais uma fila. Essa eu ignoro. Afinal, estou com um livro na mão. Sou imune àquilo. Espero todos e vou no fim. Dois ônibus saem para encontrar a aeronave. Manobras um tanto bruscas, por áreas um tanto bagunçadas. Alguns minutos e estacionamos ao lado do Airbus A320. As portas no ônibus permanecem fechadas. E continuariam assim por mais tempo. O motivo logo fica evidente. A cena é hilária, mas antes de tudo revoltante.
São vários os quadros, acontecendo caótica e simultaneamente. Um veículo estaciona e abre-se o "bagageiro" do avião. Arma-se a esteira mecânica, uma pessoa entra na barriga de lata e começa e extrair malas e mais malas. É isso mesmo. O avião, naquele momento, estava sendo descarregado! O excesso de zelo talvez explique a quantidade de malas que caíram no chão e lá permaneceram até que a operação terminasse e fossem, assim recolhidas (teve alguma mala extraviada ultimamente? algum item que transportava sofreu avaria?. Não acompanhamos o carregamento para o voo que aguardávamos.
Outra cena. Um caminhão tanque estaciona. Um funcionário desce. Abre um compartimento na asa da aeronave e a abastece. Em outra, um caminhão à vácuo estaciona, mais um funcionário desce, abre mais um compartimento, acopla um tubo e, bem... A situação já estava uma M.... Outra cena. Uma vã chega numa velocidade um pouco assustadora para uma área tão sensível como aquela. Do veículo descem mais de meia dúzia de trabalhadores, na maioria mulheres, uniformizadas, com instrumentos de limpeza, sacolas plásticas e outros aparatos. Sobem correndo as escadas e num frenesi executam sua tarefa.
Durante todo esse tempo, ambos os ônibus permanecem, é claro, com as portas fechadas. Os passageiros, muitos estrangeiros, assistem a lamentável cena que se desenrola ao vivo e em cores em nossa frente.
Os comentários, quase unânimes, faziam referência com a aparente inevitável vergonha vislumbrada para os futuros eventos a serem sediados pelo Brasil.
As portas se abrem. Esperança! Subimos as escadas. Poltrona 28B. Sento. Aguardo. Pessoas de acomodam, em ambos os lados. Estou no meio. Saco minha arma. Aristóteles, Platão, informação, memória, história, esquecimento. É um luta. Todos a bordo, balinhas sendo distribuídas. Recuso a minha. Comissários conferindo cinto, banco... Opa. 26C "o senhor poderia voltar sua poltrona para a posição vertical?". Não. Tem um motivo. O banco está quebrado! Solução? Ignorar. Voo que segue.
Começa o briefing de segurança (sic). Estou bem no fundo da aeronave, última fileira. De lá reparo que nada pode ser ouvido ou mesmo visto. Mas tudo bem. Está anotado, para quem quiser ler, no tal panfleto. Eu prefiro a arma. Comissários palestram em bom português. Epa, e o inglês?
Decolamos por volta das 18:15, talvez mais. No ar, um sanduíche e uma cerveja. Sol. Fazer o quê? Comissários falam alguma coisa no alto-falante. Em português tudo bem. Em inglês... Bem, parece que não é preciso fluência. Como estou próximo de alguns estrangeiros, de língua inglesa pelo que pude perceber, noto o desconforto com o não entendimento. Em determinado momento, quando o comandante faz sua intervenção quase artística como as condições de voo, a temperatura no destino e o tempo de voo, fica claro o despreparo como idioma. Até um dos estrangeiros percebeu, tendo noção de nosso português, que o piloto falou algo diferente ao "traduzir". Mas tudo bem. Voo tranquilo, isto é, a aeronave decolou, não balançou muito, e pousou com segurança.
Aeroporto do Galeão. Ilha do Governador, Rio! A farra dos taxistas e mesmo carros comuns oferendo serviços de transporte sem o incômodo das autoridades. Cidade Maravilhosa!
Saindo... Linha Vermelha. Avenida Brasil. Avenida que é a cara do que tem de pior nesse país. Deveria servir de estudo para solucionar o problema maior. Um microcosmos que representa o macrocosmos de dimensões continentais. Engarrafamento, pobreza, miséria, insegurança, péssima qualidade de asfalto, entorno decadente, ocupação desordenada e outros bichos.
Chego em casa afinal. É noite. Terça-feira (26). Viagem curta. Duração do retorno? Mais de 07 horas.
Pensamento no futuro. Copa do Mundo em 2014. Jogos Olímpicos em 2016. Alarmado, eu? Não. Só na expectativa.
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