Antes que eu esqueça
Era uma vez um blogueiro que desanimou e pensou não mais blogar... Então ele desistiu da idéia tola (?), olhou para a tela e recomeçou a dedilhar, com a intenção de dar continuidade a algo que por acaso começara, cheio de fantasmas pessoais para exorcizar em palavras escritas, repleto de dúvidas e temores... cá estou, querendo, desejando, ansiando para trocar uma idéia sobre tudo.
E, antes que eu me esqueça, falarei de um evento sobre o qual já deveria ter escrito aqui no TUIST (no Twitter foi online, ao vivo, em tempo real...). Falo do Back2Black Festival, ocorrido entre os dias 28 e 30 do mês passado, no Leopoldina. Eu fui, e conto aqui minha percepção da coisa.
Para começar, vou contar como eu via e entendia o evento. Começo citando o que está na página promocional, onde o Back2Black é apresentado como "um evento internacional que celebra a África como berço da civilização e pólo de discussão política e difusão cultural".
A primeira coisa que me chamou atenção, despertando meu interesse, além de ser um evento sobre a África (a África negra, como nos faz crer o título) foi a participação da bela zambiana Dambisa Moyo, sobre quem eu lia à época. A economista Dambisa Moyo, ganhou notoriedade internacional com seus estudos sobre a consequência prejudicial da ajuda internacional ao continente africano, estudo esse que gerou o livro "Dead Aid: Why Aid is Not Working and How There is a Better Way For Africa". Não era a primeira vez que eu lia esse tipo de argumentação. De qualquer forma, me interessei quando me deparei com textos sobre uma africana de Zâmbia que dizia "A ajuda não faz bem à África". Por essas e outras, pensei, vou ao evento.
No íntimo, considerando a gama de shows de artistas nacionals e estrangeiros, sobretudo os africanos, infelizmente tão raros nos palcos nacionais, eu sabia que a festa iria reinar sobre a discussão acadêmica, política e social que o evento iria promover.
A participação do professor Alberto da Costa e Silva, acadêmico imortal, grande autor sobre o continente africano, igualmente pesou em minha decisão de ir.
Como não sou bobo (nem tanto) nem hipócrita (nem tanto) os shows daquele dia, o último do evento, comandados por Mart'nália, também me animaram.
Antes mesmo de pôr os pés numa Leopoldina ricamente enfeitada, embora maltrada pelo esquecimento dos órgãos públicos e vândalos sociais, começaram as polêmicas. A primeira delas, como não poderia deixar de ser, foi o ingresso, dito incompatível com a situação social do negro no Brasil. O "dito" é por minha conta, uma vez que em muitos eventos gasta muito mais e considerando toda a produção, shows e palestras... bem, eu paguei e não me arrependo.
Outra questão de certa forma emaranhada na exposição da primeira: o entendimento, a interpretação do evento e seu propósito. A forma como alguns se referiam ao evento, já mostrava tudo. Diziam Black2Black e não o correto, Back2Black. Com tradução livre, De volta do Negro, o objetivo do evento propõe um novo olhar sobre o continente africano. Um retorno, um resgate, uma reaproximação, uma releitura. Esse era o meu sentimento enquanto estive no evento, jamais pensei em Back2Black como uma festa típica, folclórica, fantasiosa... mas muitos assim pensaram, e foram lá com esse espírito.
Eu vou resumir aquelas horas no festival expondo o que achei de bom e o que achei de péssimo, não teve meio termo, não para mim.
Material. A decoração me impressionou! Painéis, mapas imensos com diferentes temáticas envolvendo o continente africano. Fotos gigantescas exibindo a realidade e a diversidade cultural e social do continente. O palco grandioso. O ambiente saudoso de uma Estação Leopoldina dos tempos do Trem de Prata. Os vagões estacionados, transformados em lojas, livraria...
Musical. Embora a acústica do lugar não ajudasse, os shows de Mart'nália e seus convidados foram ótimos. Luiz Melodia, Margareth Menezes, Angélique Kidjo (incrível!!!), Omara Portuondo, dentre outros.
Acadêmico. Parabéns ao professor Alberto da Costa e Silva. Soube conduzir com elegância o pouco tempo que lhe foi ofertado. Uma aula em poucas palavras. Dambisa Moyo, igualmente elegante, demonstrou toda a inteligência e coerência na defesa de suas idéias. Valeu cada argumentação, cada resposta.
Bem, acima eu citei coisas boas, coisas positivas. Como não vivemos num mundo perfeito... que tal a outra parte da realidade?
Material. O que foi ofertado não pode ser aproveitado, não plenamente. Falo especificamente das projeções de vídeos (filmes, documentários...) que dificilmente encontraremos na locadora. Se o ambiente abrisse as portas mais cedo, talvez fosse possível "curtir" um pouco disso. Mas, pelo menos no dia em que fui, o tempo entre a abertura dos portões e o início das palestras foi curto.
A denúncia. O consumo drogas era praticado livremente durante os shows. Pessoas fumavam maconha como se fosse a coisa mais lícita do mundo.
Os preços. O ingresso, já disse, não reclamo. Desembolsei a grana com um pensamento, com uma intenção e uma expectativa. Mas, e os comes e bebes. Realmente, aquilo alí não era algo, digamos, popular. Entre patrocinadores e apoiadores do evento, estavam empresas e instituições bem conhecidas, tais como Petrobras, Vale, o governo brasileiro através do Mistério da Cultura e da Fundação Cultural Palmares, a empresa de telefonia Oi, o governo do Estado do Rio de Janeiro, a rede de Hotéis Othon e, uma grande ironia em se tratando da temática do evento e, particularmente da presença de Dambisa Moyo, o evento também teve apoio do Banco Mundial.
O ministro. A composição da mesa na conferência contou com a presença mais que marcante de Gilberto Gil. Foram momentos de constrangimento. A verborragia cega desse personagem brasileiro, grande artista, é de causar espanto e fazer dormir ao mesmo tempo. O responsavel pelo convite deveria ser preso. Gil conseguiu estragar parte do que o evento ofereceria de melhor.
O desfalque. Graça Machel, que deveria compor a mesa na conferência "A África na Construção do Mundo. O Futuro", não pode estar presente. Uma lástima.
O resultado de tudo. Ficou o show pelo show. Perdeu-se ali uma grande oportunidade de se fazer juz ao título do evento. A África, com o que foi apresentado ali continuará sendo algo fantasioso, irreal, distante. O Back2 se torna Far from de maneira cruel. Uma pena.
Mas alguém faturou!
Era uma vez um blogueiro que desanimou e pensou não mais blogar... Então ele desistiu da idéia tola (?), olhou para a tela e recomeçou a dedilhar, com a intenção de dar continuidade a algo que por acaso começara, cheio de fantasmas pessoais para exorcizar em palavras escritas, repleto de dúvidas e temores... cá estou, querendo, desejando, ansiando para trocar uma idéia sobre tudo.
E, antes que eu me esqueça, falarei de um evento sobre o qual já deveria ter escrito aqui no TUIST (no Twitter foi online, ao vivo, em tempo real...). Falo do Back2Black Festival, ocorrido entre os dias 28 e 30 do mês passado, no Leopoldina. Eu fui, e conto aqui minha percepção da coisa.
Para começar, vou contar como eu via e entendia o evento. Começo citando o que está na página promocional, onde o Back2Black é apresentado como "um evento internacional que celebra a África como berço da civilização e pólo de discussão política e difusão cultural".
A primeira coisa que me chamou atenção, despertando meu interesse, além de ser um evento sobre a África (a África negra, como nos faz crer o título) foi a participação da bela zambiana Dambisa Moyo, sobre quem eu lia à época. A economista Dambisa Moyo, ganhou notoriedade internacional com seus estudos sobre a consequência prejudicial da ajuda internacional ao continente africano, estudo esse que gerou o livro "Dead Aid: Why Aid is Not Working and How There is a Better Way For Africa". Não era a primeira vez que eu lia esse tipo de argumentação. De qualquer forma, me interessei quando me deparei com textos sobre uma africana de Zâmbia que dizia "A ajuda não faz bem à África". Por essas e outras, pensei, vou ao evento.
No íntimo, considerando a gama de shows de artistas nacionals e estrangeiros, sobretudo os africanos, infelizmente tão raros nos palcos nacionais, eu sabia que a festa iria reinar sobre a discussão acadêmica, política e social que o evento iria promover.
A participação do professor Alberto da Costa e Silva, acadêmico imortal, grande autor sobre o continente africano, igualmente pesou em minha decisão de ir.
Como não sou bobo (nem tanto) nem hipócrita (nem tanto) os shows daquele dia, o último do evento, comandados por Mart'nália, também me animaram.
Antes mesmo de pôr os pés numa Leopoldina ricamente enfeitada, embora maltrada pelo esquecimento dos órgãos públicos e vândalos sociais, começaram as polêmicas. A primeira delas, como não poderia deixar de ser, foi o ingresso, dito incompatível com a situação social do negro no Brasil. O "dito" é por minha conta, uma vez que em muitos eventos gasta muito mais e considerando toda a produção, shows e palestras... bem, eu paguei e não me arrependo.
Outra questão de certa forma emaranhada na exposição da primeira: o entendimento, a interpretação do evento e seu propósito. A forma como alguns se referiam ao evento, já mostrava tudo. Diziam Black2Black e não o correto, Back2Black. Com tradução livre, De volta do Negro, o objetivo do evento propõe um novo olhar sobre o continente africano. Um retorno, um resgate, uma reaproximação, uma releitura. Esse era o meu sentimento enquanto estive no evento, jamais pensei em Back2Black como uma festa típica, folclórica, fantasiosa... mas muitos assim pensaram, e foram lá com esse espírito.
Eu vou resumir aquelas horas no festival expondo o que achei de bom e o que achei de péssimo, não teve meio termo, não para mim.
Material. A decoração me impressionou! Painéis, mapas imensos com diferentes temáticas envolvendo o continente africano. Fotos gigantescas exibindo a realidade e a diversidade cultural e social do continente. O palco grandioso. O ambiente saudoso de uma Estação Leopoldina dos tempos do Trem de Prata. Os vagões estacionados, transformados em lojas, livraria...
Musical. Embora a acústica do lugar não ajudasse, os shows de Mart'nália e seus convidados foram ótimos. Luiz Melodia, Margareth Menezes, Angélique Kidjo (incrível!!!), Omara Portuondo, dentre outros.
Acadêmico. Parabéns ao professor Alberto da Costa e Silva. Soube conduzir com elegância o pouco tempo que lhe foi ofertado. Uma aula em poucas palavras. Dambisa Moyo, igualmente elegante, demonstrou toda a inteligência e coerência na defesa de suas idéias. Valeu cada argumentação, cada resposta.
Bem, acima eu citei coisas boas, coisas positivas. Como não vivemos num mundo perfeito... que tal a outra parte da realidade?
Material. O que foi ofertado não pode ser aproveitado, não plenamente. Falo especificamente das projeções de vídeos (filmes, documentários...) que dificilmente encontraremos na locadora. Se o ambiente abrisse as portas mais cedo, talvez fosse possível "curtir" um pouco disso. Mas, pelo menos no dia em que fui, o tempo entre a abertura dos portões e o início das palestras foi curto.
A denúncia. O consumo drogas era praticado livremente durante os shows. Pessoas fumavam maconha como se fosse a coisa mais lícita do mundo.
Os preços. O ingresso, já disse, não reclamo. Desembolsei a grana com um pensamento, com uma intenção e uma expectativa. Mas, e os comes e bebes. Realmente, aquilo alí não era algo, digamos, popular. Entre patrocinadores e apoiadores do evento, estavam empresas e instituições bem conhecidas, tais como Petrobras, Vale, o governo brasileiro através do Mistério da Cultura e da Fundação Cultural Palmares, a empresa de telefonia Oi, o governo do Estado do Rio de Janeiro, a rede de Hotéis Othon e, uma grande ironia em se tratando da temática do evento e, particularmente da presença de Dambisa Moyo, o evento também teve apoio do Banco Mundial.
O ministro. A composição da mesa na conferência contou com a presença mais que marcante de Gilberto Gil. Foram momentos de constrangimento. A verborragia cega desse personagem brasileiro, grande artista, é de causar espanto e fazer dormir ao mesmo tempo. O responsavel pelo convite deveria ser preso. Gil conseguiu estragar parte do que o evento ofereceria de melhor.
O desfalque. Graça Machel, que deveria compor a mesa na conferência "A África na Construção do Mundo. O Futuro", não pode estar presente. Uma lástima.
O resultado de tudo. Ficou o show pelo show. Perdeu-se ali uma grande oportunidade de se fazer juz ao título do evento. A África, com o que foi apresentado ali continuará sendo algo fantasioso, irreal, distante. O Back2 se torna Far from de maneira cruel. Uma pena.
Mas alguém faturou!
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